quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Férias


Postar comentários sobre as férias com mais de três meses de atraso só vem corroborar o que eu já estou cansada de saber: organização não é o meu forte!
Mas a ordem das coisas, pelo menos na maioria das vezes, não altera o resultado. Por isso as férias foram uma maravilha e ter um tempinho para repensar sobre elas aqui também é ótimo.
Uma vez ouvi uma frase que diz que “Viajar é atravessar fronteiras dentro de si mesmo”. Eu concordo plenamente. Ainda mais quando você realmente atravessa fronteiras, foge da segurança do nosso solo tão sagrado.
Algumas pessoas me dizem que eu falo muito mal das coisas no Brasil, que só acho certo as coisas como são lá fora, mas isso não é verdade. Conhecer o outro lado só me faz mesmo é perceber como o meu país é maravilhoso e aproveitar ainda mais todas as vantagens que ele tem. Mas isso é mais do mesmo. Eu seria cega se não visse tanta coisa interessante lá fora e seria burra se não prestasse atenção. Comodismo é para pessoas medíocres. Pessoas medíocres falam de política, futebol e religião superficialmente. São geralmente imparciais, preferem não opinar ou não têm opinião. Eu gosto mesmo é de discutir, eu gosto mesmo é descer do muro e escolher o meu lado! Porque a nossa mente é como um músculo do nosso corpo. Quanto mais exercitado, mais forte e saudável! Tenho medo de mente atrofiada...
No fundo, no fundo, as diferenças são simples: a consciência do europeu e do americano como cidadãos, a naturalidade de cobrar os seus direitos e não perder tanto tempo não cumprindo seus deveres. Ainda sobre os europeus, a consciência política e a vontade de adquirir conhecimento. E o mais importante de tudo: a valorização da educação. O dia em que o brasileiro tiver isso tudo ele vai aprender a votar, vai querer ver seu país copiar soluções inteligentes, vai aprender a ler jornal e analisar as intenções do que lá está escrito, o Brasil vai ter impostos mais racionais e conseqüentemente a qualidade dos serviços será mais lógica e humana e o país vai ter Direitos Humanos para humanos direitos. Mas leva tempo, leva chão. Tem que começar com vontade e infelizmente a vontade raramente nasce em solo comodista.
Bom, o primeiro ponto turístico que conheci na Holanda foi o Museu Van Gogh. Por que será, né? Talvez porque Van Gogh represente para mim tudo o que eu entendo por arte. Cada obra sua é como um livro que conta estórias através de expressões ou uma música que toca através das cores e nuances. Realmente é um museu lindo e fascinante com a biografia completa e os melhores trabalhos de um gênio. No meio de tanta arte, tanta criatividade, o que também achei interessante foi perceber como nós, muitas vezes, colocamos obstáculos para a nossa felicidade sem questionarmos as possibilidades do nosso futuro. Van Gogh suicidou-se, entre outras razões, porque achava que era um estorvo para a sua família, em especial, para o seu irmão que o apoiou durante toda a sua vida. O irônico é que após a morte do gênio, o seu irmão morreu meses depois. E ainda assim, a vida continuou... E os outros também.
Butterflies and Poppins me fez perceber, ou melhor, sentir como sou feliz tendo a oportunidade de visitar um dos lugares mais belos do mundo e conhecer a obra de um ser tão especial. É muito bom estar vivo, é bom viajar, é bom relembrar que existe um mundo bem maior que o nosso e que gira independente dos nossos micro-problemas. Às vezes a gente esquece.
E então me dirijo para a Casa de Anne Frank.
Se alguém me dissesse há uns quinze anos atrás que eu visitaria algo como este templo eu jamais acreditaria.
Anne Frank mudou minha vida sem eu ter noção do que se passava à minha volta. Ela afetou meu modo de pensar, de agir, meus sentimentos e eu diria até que o meu caráter. Coisas que só um ser iluminado tem o poder de fazer. E também agradeço muito por ter a oportunidade de conhecer mais a fundo a sua história. Afinal, é também parte da história do nosso tempo, uma parte triste e vergonhosa, é claro. Mas se disséssemos que o racismo e o anti-semitismo acabaram, estaríamos mentindo. Infelizmente enquanto muitos preconceitos caem por terra, outros surgem de onde nem imaginamos. Assim, essa maldita floresta de cogumelos nunca desaparece.
As pessoas em Amsterdam parecem um pouco mais livres dos modismos da cultura pop, do consumismo exagerado, da anorexia e da obesidade marcantes em algumas metrópoles. Os jovens parecem meio bregas e isso é muito legal! Uma coisa meio anos 80 nas músicas e no jeito de se vestir. Eu adoro! É relaxante! Foge do estilo meio forçado dos londrinos e da falta ou excesso de estilo dos parisienses. Deve ser a maconha, sei lá... Eu mesma nem fumei e estou viajando na maionese.
No país das bicicletas eu ainda não aprendi andar nas ditas cujas. Na verdade até desisti. Em compensação, aprendi algo mais difícil: andar nos tamancos holandeses. Nada prático, nada usual, nada bonito. Ainda assim, muito divertido.
Os moinhos são lindos, nem nos meus sonhos mais remotos eu imaginava entrar em um e passear em uma cidade que há pouco tempo atrás era apenas mar. E ainda hoje respira-se a paz de uma ilha. Dream countryside! Adorei estes dias na Holanda. Um país de museus essenciais, gente simpática, flores maravilhosas, queijos deliciosos, consciência ambiental, trânsito exemplar e paisagens inesquecíveis.
A primeira vez que estive em Londres chorei de emoção! Foi a viagem mais linda da minha vida. Hoje sei que não foi porque a cidade é a mais bonita ou a mais divertida do mundo. E simplesmente porque foi a realização dos meus sonhos, o maior deles até aquele momento. Atravessar a Abbey Road para um beatlemaníaco e pisar no solo musical mais produtivo do mundo é alegria demais para uma pessoa só. Ponto final. Hoje eu não voltaria mais. Londres deu pra mim! É uma cidade para conhecer, sim. Fazer um pic nic no Hyde Park, tirar sarro no Madame Toussauds, não perder tempo vendo troquinha da Guarda e em fila na London Eye, ficar abismado com a beleza da Torre de Londres, do Big Ben e da abadia de Westminster, relaxar na Trafalgar Square, fazer comprinhas no Convent Garden, passear por Nothing Hill e andar no caos da Oxford Street. Mas uma vez apenas! Não três! E muito menos com chuva! Mesmo que seja na companhia de um grande amor. O ideal é pegar a sua alma gêmea e voar para Paris. Ou, o que é muito melhor, ir de trem, que é muito mais prático. That's what we did!
Agora finalmente, depois de muito tempo, minha cabecinha entendeu porque Paris é chamada de cidade eterna. Porque poderíamos viver eternamente e ainda seria emocionante voltar e encontrar novidades na cidade, ou surpreender-nos com o que já vimos. Ou simplesmente admirar a sua beleza. Eu poderia estar desencantada... Mas não. Eu me encanto cada vez mais. A arquitetura, o ar, o Sena, o caricato ar blasé, as vitrines, os excessos, a arte, a história e o clima de sonho. É tão sublime que às vezes parece surreal. O mundo vende-nos Paris como a cidade mais glamorosa, romântica, bonita, fascinante e instigante que existe. A gente compra, porque é tudo isso e muito mais. A gente compra e paga caro, diga-se de passagem. Mas vale cada centavo. Nem precisava ter Louvre, a experiência mais dignificante da humanidade e a reunião de artistas e gênios. Simples humanos, porém divinos.
Eu nem sou religiosa, porque para isso eu deveria seguir uma religião. Parece-me que “apenas” acreditar em Deus e agir mais do que falar não é suficiente. Mas isso não me impediu de entender que Notre Dame, Sacre Coeur e Mont Saint Michel, além da representação do poderio e imponência da igreja, é, sobretudo a representação da fé humana, da persistência, da busca pela perfeição e do amor. A perfeição é Deus, o amor é Deus, e a fé, de fato, move montanhas. Esses templos lembram-nos disso, que há divindade em cada um de nós.
Outros templos, como o das compras, também lembram-nos que somos humanos e egoístas, mas ninguém é perfeito. Por isso as coisas lindas se destacam. A beleza não seria tão bela se não fosse tão rara... Ops! Viajando na maionese de novo! Quero voltar pra Paris!