sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Send in the clowns


Quando há poucas esperanças no futuro, temos que explorar os tesouros do passado.

Não botei aspas nesta frase porque ela é minha mesmo. E não tem nada demais, estou simplesmente falando de música. Embora, pensei bem, poderia ser sobre amor, dinheiro, moda, etc...

Mas estou falando da minha necessidade de ouvir boa música. Aquela que, como já expliquei aqui, é uma combinação perfeita de letra e melodia que juntas em harmonia entram pelos nossos poros e provocam emoções. Sei que muita gente sente isso ouvindo músicas que, honestamente, acho que eu mesma poderia compor (e algumas que eu teria vergonha de compor também). Não menosprezo a emoção de outras pessoas, mas estou falando de arte mesmo, não de uma combinação de rimas bobas, com refrão insistente e um batuque. Arte é sublime e a boa música também.

Tive muita sorte na minha adolescência. Acredito que existam na História da nossa civilização períodos bem mais criativos do que outros. Há fases de grandes descobertas, grandes evoluções e, lamentavelmente, no campo musical, sinto que atualmente não estamos passando por elas.

Além de fazer parte de uma geração de bandas maravilhosas como Titãs, Engenheiros, Paralamas e a insuperável Legião Urbana, eu tinha muitos amigos com bom gosto musical. Foram eles que me fizeram descobrir aquela que considero uma das maiores cantoras de todos os tempos (Elis Regina), me fizeram gostar e entender a poesia do The Doors, me apaixonar pela voz do Eddie Vedder e, por fim, a minha curiosidade me levou a ser fã de diversas outras bandas, cantores(as), estilos diferentes e da maior banda de todos os tempos, os meus Beatles. Bom, pelo menos essa última parte é consenso mundial, não a minha opinião.

Quando eu tinha 16 anos ganhei de uma amiga o álbum Stonewall* do Renato Russo. Esse álbum não influenciou apenas o meu gosto musical, mas também ajudou a mudar a minha visão do mundo.

Bom, eu já era fã dele, adorava músicas em inglês e tudo mais. Mas aquilo na época me pareceu um pouco demais. Renato Russo cantando musicas difíceis, estilo crooner (eu nem sabia o que era um crooner nessa época), um ritmo que ainda era muito diferente pra mim (sabia menos ainda que um dia seria apaixonada por jazz) e muito diferente do meu estilo (rock, preferencialmente com protesto). Mas eu me abri à possibilidade de escutar e gostei. Por um tempo aquilo era para mim apenas estranho, exceto por uma música que desde o começo me arrebatou: “If tomorrow never comes”. Talvez porque a letra básica, que logo entendi, e o ritmo suave diziam tudo, era o tipo de música e de letra que nem imaginei que existia: perfeita para quem não tem coragem de dizer o que sente (paixão platônica) e tem medo do futuro, ou seja, ideal para adolescentes românticos e inseguros, como era o meu caso.

Até que diversas passadas de agulhas depois (sim, era vinil, velha é a tua mãe!), eu percebi que o álbum todo era sobre canções de amor e, principalmente, sobre corações partidos (hoje seria só pesquisar no Google pra saber...). Sempre vou lembrar desta fase, desse disco lindamente interpretado pela voz forte e afinadíssima do Renato Russo, recém devastado pelo fim de um grande amor, e sob medida para mim, recém ignorada por todos os meus amores (reais e imaginários).

Não é engraçado como um disco de músicas tão velhas pode ser tão novo para um adolescente?

E há uns meses atrás, despretensiosamente, estava ouvindo Send in the clowns e a emoção tomou conta da minha alma. Gosto tanto dessa música e acho tão especial que queria encontrar uma tradução perfeita. Como não achei, resolvi pesquisar e modificar. O meu amigo Google é super inteligente, sempre dá uma forcinha....

http://pt.wikipedia.org/wiki/Send_in_the_Clowns

E então tenho certeza que esta música é simplesmente divina e eu recomendo para quem já passou ou está passando pelo fim de um relacionamento. Quando o mundo estiver prestes a desabar e o desastre for iminente, eu desejo apenas que, mais que imediatamente, entrem os palhaços!


Isn't it rich, are we a pair? - Não é precioso, nós somos um par?

Me here at last on the ground, - Eu aqui finalmente no chão

You in mid-air. - E você no ar

Send in the clowns. - Que entrem os palhaços!


Isn't it bliss, don't you approve? - Não é uma alegria, concorda?

One who keeps tearing around - Um que está todo apressado

One who can't move - Outro que não consegue se mexer

Where are the clowns? - Onde estão os palhaços?


Just when I'd stopped opening doors, - Logo quando fechei as portas

Finally knowing the one that I wanted was yours. - Finalmente achando que era você quem eu queria

Making my entrance again with my usual flair, - Fazendo minha entrada novamente com meu charme habitual

Sure of my lines; - com minhas falas decoradas

No one is there. – mas ninguém estava lá


Don't you love farce? – Você não adora uma comédia?

My fault I fear, - Admito meu erro

I thought that you'd want what I want, - Pensei que você queria o mesmo que eu

Sorry my dear – Sinto muito

But where are the clowns – Mas onde estão os palhaços?

There ought to be clowns – Tem que haver palhaços!

Quick send in the clowns – Que entrem rapidamente os palhaços


What a surprise! – Que surpresa!

Who could foresee – Quem poderia prever?

I'd come to feel about you – Que eu sentiria por você o mesmo

What you felt about me? - que você sentiu por mim?

Why only now when I see – Por que logo agora quando vejo

That you've drifted away? – que você se afastou?

What a surprise... Que surpresa!

What a cliche'... Que cliché!


Isn't it rich, isn't it queer – Não é lindo, fantástico?

Losing my timing this late in my career – Perdendo o jeito depois de tanto tempo neste ofício?

And where are the clowns – E onde estão os palhaços?

Quick send in the clowns – Que entrem imediatamente!

Don't bother, they're here. – Não se preocupe, eles estão aqui!

http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Stonewall_Celebration_Concert