quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Let it be...

Tantas coisas se passaram sem que eu tivesse energias para postar. A loucura dos problemas e das viagens, meus sentimentos confusos, a minha primeira experiência de inferno astral, seguida de um aniversário que teria tudo para ser um fiasco se não fosse na data mais maravilhosa do ano (dia da música), com o show perfeito (celestial) do meu amor me transportando automaticamente para o paraíso astral e finalmente eu aqui tentando reencontrar o meu eixo.
Acabei de ler “Comer, rezar, amar”. É impressionante como bons livros te dão uma carga de boas energias que podem durar semanas, dias e até meses. E eu estava precisando. Um pouquinho de boas estórias, um pouquinho de boas risadas, um pouquinho de fé, e um pouquinho de concentração de volta. Nada mal para quem não lia há meses e devorou 340 páginas em 3 dias.
Ler é realmente uma viagem prática e deliciosa, sem pressa, sem peso e sem hora para arrumar as malas e pegar o avião de volta.
Mas a música é uma viagem melhor ainda. No fervor da nossa luta contra os nossos pequenos (e às vezes grandes) problemas, esquecemos de nos agarrar aos pequenos prazeres que nos libertam de alguma forma deste círculo vicioso de sofrimento.
Hoje faz 20 anos que me tornei uma beatlemaníaca. Era exatamente 19:00h do dia 08 de dezembro de 1990. Fazia 10 anos que John tinha sido assassinado e ia ter um especial no rádio em homenagem a ele e aos Beatles. Resolvi gravar (é, não é baixar, é gravar) algumas músicas porque achava que não conhecia muita coisa e tinha a impressão de que John Lennon era ótimo.
Constatei que John era realmente um gênio, mas descobri também a sua turma, e Beatles então passou a ser a minha trilha sonora.
No dia do meu aniversário quando Paul subiu naquele palco percebi que estava realizando outro grande sonho. É ótimo quando você realiza conscientemente um sonho. Sempre costumo dizer que grandes sonhos são difíceis de se realizar e muitas vezes eles se realizam, mas ao contrário do que imaginamos. É realmente muito louco tudo isso. Mas é assim mesmo. Às vezes eles até já se realizaram e a gente nem percebeu.

Eu percebi! E naquele dia que São Pedro resolveu abrir todas as torneiras do céu, eu abri o meu coração e deixei todos os meus problemas saírem. Eu iniciei uma grande limpeza na minha alma e comecei a minha filosofia Live and let die. Live da forma que sempre achei correta, respeitando os meus sentimentos e os das outras pessoas e suas opiniões, porém Die todo o preconceito e toda a amargura que faz com que as pessoas sejam tão violentas, mesmo desarmadas. Naquele instante eu resolvi parar, descansar, curtir e também me renovar para lutar, sem aquelas mágoas, aquelas tristezas e aquela autopiedade que estavam me consumindo. Através de John conheci Beatles. Através de Beatles conheci Paul, e a sua música que sempre me trouxe alegria, agora podia também me libertar.
Ouvi a obra-prima de Paul, Eleanor Rigby, a ode à solidão, tema da minha juventude romântica. Como toda romântica, intensa. E triste, saudosa de algo que nunca vi, como já diria meu outro poeta romântico, Renato Russo. Eu cultivava a tristeza, como quem cultiva plantas em um jardim, e colhia apenas as minhas flores: solidão e poesia.
Naquela época eu via todas aquelas pessoas solitárias. Eu era uma delas. De onde eu vinha? À quem eu pertencia?
Let it be...
Não quero parecer herege ou profana, mas talvez seja isso mesmo. Já que não encontro a paz ou respostas nas igrejas com seus dogmas, na minha falta de talento para a meditação e total desapego, talvez a minha única religião seja a música. Me apazigua, me traz conforto, é meu mantra. E pelo menos na minha corrente, é um instrumento do bem.
The long and widing road me fez perceber que tenho que tomar mais conta de mim, me perdoar, dar o tempo que preciso para perdoar aqueles que sei que um dia vou perdoar. Sempre tive a impressão que é da minha consistência o perdão, graças à Deus!
Don’ carry the world upon your shoulders! I won’t! E eu vibro com meu mantra que sempre sonhei cantar em um templo com outros 60 mil fiéis...Na, na, na, na, na, nã....
No fim, tudo vai virar pó. Tudo vai acabar e vai restar a alma cheia apenas de amor. ‘Cause in the end the love you take is equal to the Love you make...
E quando eu for embora ( espero que não tão cedo), quero apenas muitos amigos (não tantos, é claro, é chato ser a primeira da turma), muitas boas vibrações e um mantra simplesinho assim:
Blackbird fly, blackbird fly… Into the light of the dark black night…
E então John Lennon dirá ao me receber (wherever...): You were only waiting for this moment to arrive…