quarta-feira, 25 de julho de 2012

A capa fria

Percebi uma coisa interessante esses dias. Tenho saído cedo e chegado tarde em casa e minha companhia mais constante tem sido o telejornal. No meu café da manhã apressado, eu estou lá atenta. E na volta, cansada, lá está ele de novo. São edições diferentes, mas parecem absolutamente iguais. Me lembra Cazuza: “Você sempre volta com as mesmas notícias...”


Essa semana até aconteceu uma coisa engraçada. O apresentador já tinha desfiado todo o rosário: tragédias, acidentes, assaltos, seqüestros, assassinatos, ataques, a crise européia, americana, o inferno na Síria, e do nada, ele pára e diz: – E agora uma notícia triste...???? ¬– O goleiro da seleção está lesionado e terá que ser substituído nas Olimpíadas...??? Hã??

Não, parece piada, mas é sério. Até porque o brasileiro médio não entende muito bem humor negro ou ironia, né? E eu aqui entendi, na verdade, que o cara tá mesmo tão habituado, que realmente goleiro lesionado é a única notícia extraordinária (no sentido jornalístico da palavra, é claro) dos últimos tempos.

Juro! Pensei, é isso mesmo, todo dia é igual, é muita noticia horrível junta. A economia mundial vai mal, a seca no nordeste é a pior dos últimos anos, psicopatas continuam protagonizando massacres, políticos envolvidos em esquemas maiores e mais fraudulentos, aumento do consumo de drogas e tudo vai ficando cada vez mais... NORMAL!

Mas isso não é o pior. Como já dizia Renato Russo, estamos vivendo num mundo doente. Sim, porque vamos considerar que o telejornal é a fonte “mais segura” de cultura, informação e orientação do nosso povo. Se os brasileiros tivessem um guru, provavelmente ele seria o William Bonner. Mas ele só está ali para dizer o que acontece. E o que acontece é muito ruim. E quanto pior está, pior vai ficando. Não é estranho que vivamos em uma época onde o índice de casos de depressão é tão alarmante. O mundo está cheio de pessoas deprimidas e o próprio universo em si está ficando deprimido e depressivo.

Mas a verdade é que temos que sair e enfrentar o nosso dia-a-dia com um sorriso no rosto e agradecer à Deus a nossa sorte. Somos sobreviventes e isso é um grande motivo de alegria.

Temos que agir da mesma forma como aqueles médicos que amam a sua profissão, mas que precisam ter sangue frio para executá-la corretamente. Precisamos sim de frieza, mas temos que ter jogo de cintura para continuar sendo humanos mesmo diante de tanta desumanidade.

Dei um tempo para o telejornal então. Ele estava ficando uma mistura de programas sensacionalistas de fim de tarde e alguns índices econômicos. Decidi que vou me habituar a buscar na internet as informações essenciais que me permitam não ser uma mulher alienada. É uma pena que muitas pessoas não tenham instrução para usar este recurso também.

Eu espero que a maioria das pessoas tenha a capacidade de se compadecer e ainda assim não se abater a ponto de ficar com medo do mundo, ou a ponto de sentir uma tristeza por tudo que acontece e independe da nossa vontade. Acho que eu quero evitar o que os alemães chamam de Weltschmerz. E o meu desejo é que tenhamos discernimento para usar a nossa tão necessária “capa fria”.