quinta-feira, 18 de março de 2010

O coração de Cora

Nossa! Tanto tempo sem postar nada e quando volto, trago toda essa crítica às mulheres? Que chata que eu sou!!!!!
Não é bem assim... É também uma autocrítica (com ou sem hífen, e agora?)! Eu também sou mulher, afinal. Mas acho que criticar é uma forma de aprender, né? E de fazer inimigos também...rsss
Para amenizar, deixo uma poesia que amo, de outra mulher que admiro demais. Uma mulher simples e cativante que, quietinha no seu cantinho, encontrou uma forma de se tornar eterna, fazendo da sua imaginação uma fábrica de belos poemas e encantando o coração de outras sensíveis mulheres e homens também. Citando-a, eu também digo: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
Doce nome de pronunciar: Cora Coralina.

Saber Viver

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar

terça-feira, 9 de março de 2010

8 de março - Parabéns, mulheres! Parabéns?

E novamente passou! As comemorações aconteceram como sempre: pouquíssimos movimentos de cunho intelectual, pouquíssima reflexão sobre o real significado deste dia e muitos, mas muitos, emails dizendo como somos sensíveis, maravilhosas e lindas, comparando-nos com rosas, mãe natureza, leoas, tigresas, blá, blá, blá... E muitos bombons e flores, e lá se vai mais um ano em que uma data tão importante perde a sua essência estimulada pelo consumismo e a alienação. Não quero ser chata. Não que eu não goste de flores e bombons, pelo amor de Deus! Gosto até demais! Mas vamos além disso, por favor!
As mulheres precisam acordar. Dirijo esta frase, que não sei de quem é, mas que serve para nós todas: “Aproveitemos bem o tempo! Já é bem mais tarde do que pensamos!”
Desde a morte de Zilda Arns, uma das mulheres mais marcantes que o Brasil já teve depois da irmã Dulce, venho pensando como temos tão poucas mulheres exemplares ultimamente. É lamentável, mas é só olhar ao redor e perceber. Na mídia, carreiristas cujo maior feito é aumentar o número de exemplares da Playboy. As grandes (mais famosas) apresentadoras da nossa TV não passam de prostitutas de luxo que escolheram bem com quem dormir para se promover e conquistar o seu lugar ao sol. Esqueçamos algumas das mais antigas que têm atitudes inovadoras como, por exemplo, dar selinho nos seus convidados...
Em sua maioria, elas ajudam a estimular o ciclo da alienação, pregam a auto-estima feminina resumindo-a em dietas idiotas e reforçando o padrão das bonitas e vazias (literalmente). São aquelas que vão ler o conteúdo dos emails acima citados nos seus programas matutinos, vespertinos, noturnos, dominicais...todos iguais! Haja saco!
Na música, você já sabe: a bunda! Abundam refrões idiotas, mudanças estéticas para um público fascinado por mulheres plásticas (que é composto, em sua maioria, justamente por mulheres), escassez de letras, pouca poesia, pouca informação e muita futilidade. E infelizmente isso não é privilégio apenas do Brasil. Nós estamos até “menos piores”. Deve ser apenas porque ainda somos um país “em desenvolvimento”. Meu Deus!
Mas é na política que abunda o meu desgosto! Ai, como abunda! Lembro o que senti quando há alguns anos (põe anos aí) despontou na mídia uma mulher moderna e liberal que eu achava que ainda ia admirar muito, apesar de logo em seguida ela se filiar a um partido que não sou muito fã, o da estrelinha, sabe? Ela teve a oportunidade de governar a cidade mais importante do país e aproveitou bem. Bem mal! Para fazer igualzinho ou pior do que os homens. Esqueceu, por exemplo, áreas de saúde e educação, o que para as suas eleitoras era inadmissível. Não influenciou nos programas que privilegiavam a condição da mulher e pior que tudo isso: tempos depois quebrou a cara e arruinou a sua imagem com comentários infelizes, e pasmem, preconceituosos. Alguns, desculpe-me os homens, tipicamente masculinos.
E isso me revolta não só na política, mas nos mais altos cargos de algumas empresas também. Quando a mulher finalmente chega lá no topo, ou quase lá, porque no topo mesmo ainda é muito difícil para nós, no geral, elas têm essa tendência de querer fazer exatamente como os homens. Elas são duras, são frias e elas não se aliam às outras mulheres, pelo contrário. E isso é explícito, todos vêem. Elas se atritam.
No meu dia-a-dia sempre vejo isso. E para mim é fácil observar, pois sempre preferi trabalhar com mulheres. Me dou o direito de ter essa preferência sem me culpar por ser sexista ou preconceituosa, mas na área comercial vejo mais resultados na delicadeza e no comprometimento das mulheres, na sua capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo e, acredito sim, que em outras áreas o sexo também possa fazer a diferença, seja pela força física, seja pela disponibilidade de horários ou apenas pela sensibilidade. Enfim, concordo com o pensamento de uma outra grande mulher, Rose Marie Muraro, que costuma dizer: “mulheres e homens precisam ter direitos iguais, respeitando-se as diferenças”. Ou seja, as diferenças existem e em algumas profissões elas são determinantes.
Mas voltando ao meu caso, também tem um quê de não desperdiçar oportunidades. Ora, por que não dar oportunidades para mulheres se eu posso? Por que não as estimular para que estudem, pesquisem e cresçam profissionalmente e ensiná-las tudo o que eu sei para diminuir a minha carga, que como para a maioria das mulheres, vamos combinar, é maior do que a de qualquer homem que exerça o mesmo trabalho? Sendo que eu sei, e todas sabem, que no fim das contas, são eles que ganham mais.
Mas aí quando eu acho que estou no caminho certo, o que às vezes me deprime é ver que algumas se especializam mais na arte da fofoca e da intriga do que no intuito de fortalecer essa corrente. Poucas se ajudam, muitas se acusam e elas não se unem para crescer. Isso é regra? Não, não é! Mas infelizmente também não é exceção! Muitas são assim e eu não tenho certeza se é por natureza, mas desconfio que esse comportamento venha da criação, passando de geração para geração.
Nestas horas me lembro do maravilhoso filme “A cor púrpura”, em que a personagem de Whoopi Goldberg, uma moça abusada física e psicologicamente por todos os homens de sua vida, aconselha ao enteado, quando este está em dúvida sobre o que fazer com sua mulher forte e dominadora, dizendo: Bate nela! Ah, faça-me o favor! Parece ridículo, mas se prestarmos bem atenção, algumas mulheres fazem isso. Eu prefiro acreditar que inconscientemente, mas fazem! É preciso admitir para mudar!
E é por isso que admiro tanto Oprah Winfrey, por coincidência a mulher que faz a personagem forte que citei acima. Assim como no filme, Oprah sempre foi lutadora. E hoje, na vida real, é uma das mulheres mais bem sucedidas de todos os tempos. Inteligente, observadora, eloqüente, e o que é melhor, visionária, sensível e também feminina. Que usa de todo o seu poder e sucesso para ajudar... Outras mulheres!
Ela podia ter uma instituição na África que ajudasse não somente meninas, mas também meninos carentes. Mas quem afinal, nos países mais subdesenvolvidos, é mais impedido de estudar? Quem ainda sofre de abusos constantes, incluindo mutilação de seus órgãos genitais e estupros freqüentes inclusive por membros de sua própria família? Quem, no fim, será sozinho responsável pela saúde e a educação de sua família na maioria dos casos? Quem ainda não tem voz?
Parabéns, Oprah! Quando finalmente as mulheres perceberem isso, talvez elas possam acreditar que de fato vão mudar o mundo! Porque felizmente “ainda” não somos a causa do início do fim. Os grandes ditadores, os genocidas e os piores líderes da história da humanidade são homens! Os presidentes de grandes empresas que destroem o meio ambiente são homens! E os políticos corruptos, hipócritas e capazes de matar para manter-se no poder também são homens! Mas será que quando chegarmos lá, no topo, faremos diferente? Tenho dúvidas...
Aqui mesmo no Brasil eu queria muito poder dizer que há uma mulher que pode ser chefe desta nação e ela será diferente de tudo que já vimos. E pelo que tenho visto, sinto que até por uma questão de sobrevivência, ela será exatamente igual. E em alguns aspectos, ela pode ser pior! O que mais me entristece é que a maioria do eleitorado quer que ela seja igual. Será que a massa pensante deste país quer tudo igual? E que massa é essa? Li recentemente que 70% dos estudantes universitários brasileiros hoje são mulheres, 45% dos trabalhadores (oficialmente) são mulheres. E onde estamos mostrando a força destas mulheres? Com certeza não está na capa da Playboy...
As mulheres precisam de uma chacoalhada para a realidade. A julgar por estes números, é nítido que não somos mais cinderelas. Não podemos mais perder tempo com futilidades e príncipes encantados. Homens não compram toneladas de revista de boa forma para agradar-nos, porque eles sabem que gostamos deles por apenas duas razões: por quem eles realmente são ou pelo dinheiro que eles têm. E isso é uma das coisas que podemos copiar dos homens. Precisamos nos gostar do jeito que somos porque as revistas são compostas de mentiras que não nos levarão a lugar algum e temos que correr atrás do nosso dinheiro e da nossa independência, pois a verdade é que, para a maioria dos homens, somos apenas descartáveis.
Que as jovens comecem a pensar mais nisso antes de engravidarem e deixarem seus filhos sem pais, já que boa parte dos homens não se vêem na obrigação de assumir a responsabilidade, e as mulheres sempre têm a obrigação de ir à luta. Que as meninas percam menos tempo tomando remédios para emagrecer e mais tempo estudando e adquirindo conhecimento para um dia ter a capacidade de fazer algo realmente bom e impactante na nossa sociedade. Algo com um toque genuinamente feminino. Que tenhamos sempre, ano após ano, mais e mais motivos para comemorar o dia 8 de março!