quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Let it be...

Tantas coisas se passaram sem que eu tivesse energias para postar. A loucura dos problemas e das viagens, meus sentimentos confusos, a minha primeira experiência de inferno astral, seguida de um aniversário que teria tudo para ser um fiasco se não fosse na data mais maravilhosa do ano (dia da música), com o show perfeito (celestial) do meu amor me transportando automaticamente para o paraíso astral e finalmente eu aqui tentando reencontrar o meu eixo.
Acabei de ler “Comer, rezar, amar”. É impressionante como bons livros te dão uma carga de boas energias que podem durar semanas, dias e até meses. E eu estava precisando. Um pouquinho de boas estórias, um pouquinho de boas risadas, um pouquinho de fé, e um pouquinho de concentração de volta. Nada mal para quem não lia há meses e devorou 340 páginas em 3 dias.
Ler é realmente uma viagem prática e deliciosa, sem pressa, sem peso e sem hora para arrumar as malas e pegar o avião de volta.
Mas a música é uma viagem melhor ainda. No fervor da nossa luta contra os nossos pequenos (e às vezes grandes) problemas, esquecemos de nos agarrar aos pequenos prazeres que nos libertam de alguma forma deste círculo vicioso de sofrimento.
Hoje faz 20 anos que me tornei uma beatlemaníaca. Era exatamente 19:00h do dia 08 de dezembro de 1990. Fazia 10 anos que John tinha sido assassinado e ia ter um especial no rádio em homenagem a ele e aos Beatles. Resolvi gravar (é, não é baixar, é gravar) algumas músicas porque achava que não conhecia muita coisa e tinha a impressão de que John Lennon era ótimo.
Constatei que John era realmente um gênio, mas descobri também a sua turma, e Beatles então passou a ser a minha trilha sonora.
No dia do meu aniversário quando Paul subiu naquele palco percebi que estava realizando outro grande sonho. É ótimo quando você realiza conscientemente um sonho. Sempre costumo dizer que grandes sonhos são difíceis de se realizar e muitas vezes eles se realizam, mas ao contrário do que imaginamos. É realmente muito louco tudo isso. Mas é assim mesmo. Às vezes eles até já se realizaram e a gente nem percebeu.

Eu percebi! E naquele dia que São Pedro resolveu abrir todas as torneiras do céu, eu abri o meu coração e deixei todos os meus problemas saírem. Eu iniciei uma grande limpeza na minha alma e comecei a minha filosofia Live and let die. Live da forma que sempre achei correta, respeitando os meus sentimentos e os das outras pessoas e suas opiniões, porém Die todo o preconceito e toda a amargura que faz com que as pessoas sejam tão violentas, mesmo desarmadas. Naquele instante eu resolvi parar, descansar, curtir e também me renovar para lutar, sem aquelas mágoas, aquelas tristezas e aquela autopiedade que estavam me consumindo. Através de John conheci Beatles. Através de Beatles conheci Paul, e a sua música que sempre me trouxe alegria, agora podia também me libertar.
Ouvi a obra-prima de Paul, Eleanor Rigby, a ode à solidão, tema da minha juventude romântica. Como toda romântica, intensa. E triste, saudosa de algo que nunca vi, como já diria meu outro poeta romântico, Renato Russo. Eu cultivava a tristeza, como quem cultiva plantas em um jardim, e colhia apenas as minhas flores: solidão e poesia.
Naquela época eu via todas aquelas pessoas solitárias. Eu era uma delas. De onde eu vinha? À quem eu pertencia?
Let it be...
Não quero parecer herege ou profana, mas talvez seja isso mesmo. Já que não encontro a paz ou respostas nas igrejas com seus dogmas, na minha falta de talento para a meditação e total desapego, talvez a minha única religião seja a música. Me apazigua, me traz conforto, é meu mantra. E pelo menos na minha corrente, é um instrumento do bem.
The long and widing road me fez perceber que tenho que tomar mais conta de mim, me perdoar, dar o tempo que preciso para perdoar aqueles que sei que um dia vou perdoar. Sempre tive a impressão que é da minha consistência o perdão, graças à Deus!
Don’ carry the world upon your shoulders! I won’t! E eu vibro com meu mantra que sempre sonhei cantar em um templo com outros 60 mil fiéis...Na, na, na, na, na, nã....
No fim, tudo vai virar pó. Tudo vai acabar e vai restar a alma cheia apenas de amor. ‘Cause in the end the love you take is equal to the Love you make...
E quando eu for embora ( espero que não tão cedo), quero apenas muitos amigos (não tantos, é claro, é chato ser a primeira da turma), muitas boas vibrações e um mantra simplesinho assim:
Blackbird fly, blackbird fly… Into the light of the dark black night…
E então John Lennon dirá ao me receber (wherever...): You were only waiting for this moment to arrive…



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Quem vota em palhaço também o é!

Semana passada estava jantando com uns amigos discutindo assuntinhos básicos como trabalho, viagens, relacionamentos e, obviamente, sexo. Mas finalmente descobri que para deixar uma conversa realmente quente, nada melhor do que falar de outro tema: política! É, pois é! Vai entender o mundo moderno, né? A maioria dos temas deixou de ser tabu. Hoje em dia, legal mesmo é cair na religião e na política. Embora muitas vezes esses assuntos não levem a nada, porque são ambos questões de fé. No caso da política não deveria, é claro, mas o pior é que é!
E assim, no acaloramento da discussão, me peguei com a injusta tarefa de defender uma tese controversa: Brasileiro é um povo acomodado!
Uma bomba! E é claro que estou generalizando grosseiramente, supondo, exemplificando, sem provas, sem fundamentos científicos, blá, blá, blá... Desde quando conversa de botequim precisa de comprovações, laudos, dossiês e pesquisas estatísticas?
Você já viu algum argentino (portenho) ou carioca admitir que é arrogante ou chauvinista? Você já viu algum francês admitir que não gosta de trabalhar (ou de tomar banho)? Você já viu algum americano admitir que é inculto mesmo tendo a acesso a quase tudo?
Em que mundo um brasileiro vai admitir que é acomodado? Mas eu digo que é, e ponto! E se você consegue dar provas de que não é, então, parabéns! Você faz parte da imensa minoria que quer evoluir, enfrentar desafios, trabalhar pesado, estudar e ver o país mudar para não sentir tanta vergonha de certas coisas. Coisinhas como, por exemplo, ter um país com o presidente que é o maior vagabundo da história. Um babaca que surfa nas contingências favoráveis globais, nos esforços das pequenas e médias empresas brasileiras, as quais ele nunca retribuiu com uma mínima infra-estrutura para o seu desenvolvimento. Que conta mentiras com a seriedade de quem depõe em juízo, que se recusa a planejar o futuro do seu país, desconsiderando principalmente a educação daquele que ele alega acreditar ser tão gente quanto ele. Um paspalho ignorante e manipulável que é adorado por um povo que se recusa a olhar ao seu redor. Que somente na falta de estudo é igual ao seu presidente.
Você sabe que uma boa parcela da nossa população nunca soube o que foi a ditadura militar, nem tinha conhecimento das barbáries que aconteciam neste período e talvez até nem acreditem em relatos da época? Você sabe que a maioria das pessoas não tem idéia de que os candidatos para os quais darão ou já deram os seus votos são ou não envolvidos com esquemas de corrupção como o mensalão, o mensalinho e outras vergonhas mais?
Você me diz que o Tiririca vai ganhar um cargo importantíssimo no Congresso porque o povo está revoltado??? Me poupe! Eu te digo que o povo é acomodado porque não quer pesquisar o trabalho de candidatos sérios e suas propostas, porque tem preguiça de avaliar, discutir, pensar e até de ficar na dúvida (o que é até pouco provável diante das opções) e porque tem a desculpinha esfarrapada de estar revoltado. Depois quando vê um país sem lei, vai reclamar como quem tem todo o direito. Põe no congresso um bando de bandidos e quer que eles façam leis contra si próprios? Vota em inúteis e não quer ver o país estagnado!
A situação para mim é clara: quem vota em palhaço também o é! E na verdade, esse votinho já tá mais do que manjado. Protestaram votando em Enéias, Clodovil, Frank Aguiar e viram apenas que o cheiro da merda nacional se espalha com muita facilidade. Agora não faltam Zé Bostas para os cargos mais importantes do país, inclusive, é claro, o mais importante. O presidente escolhe o seu Zé Bosta e a nação está pronta para dar-lhe o seu voto! Não é surpresa ver o presidente apoiando o seu Netinho para senador. É fácil fazer discurso de pobre quando não se tem que trabalhar duro na vida. É fácil ser trabalhador com os projetos e as ações alheias, e é mais fácil ainda distribuir presentes com o dinheiro dos outros. É isso que dá levar o fanatismo para a política!
Bom, não estou reclamando. Não tenho nada contra pagodeiros, viu? Apenas contra aqueles que são assassinos, cúmplices de traficantes e, é claro, agressores de mulheres...
Mas na nossa política sempre existirão piores exemplos do que na nossa música. Temos um congresso Pocotó, uma câmara atoladinha, oficina da propina e do créu no dinheiro do povo (na velocidade máxima).
O comodismo reside no fato não querer ver, não querer agir e ainda fingir que é atuante.
Se os brasileiros (a maioria) lessem jornal, andassem nas ruas prestando atenção, avaliassem a história do país e conhecem também a história de brasileiros admiráveis, talvez eles percebessem para onde estão levando o nosso futuro.
Pior do que tá, é claro que fica! Quando na cabeça só tem titica!
Por que de repente os eleitores tem acreditado em tanta bobagem e tanta mentira? Querer achar que tudo está bem não é otimismo, é comodismo. Otimismo é ter certeza que realmente as coisas estão acontecendo corretamente e esperar que continuem.
Quando falo da maioria, ela não se concentra só no Nordesde, não. Ela é realmente nacional. Obviamente lá prolifera a falta de oportunidades e o excesso de desculpas (embora para fazer filho e fofoca não falte tempo, dinheiro, nem disposição...). Mas em São Paulo também proliferem desculpas, especialmente a falta de emprego. E o pior é que tem emprego, sabia? Porém, aqueles que se julgam bons demais não os querem. Não querem ser torneiros mecânicos, padeiros, telemarketings, auxiliares, p* nenhuma! É claro que não. Porque se forem muito bons, sabem que depois serão encarregados de fábricas, chefes, supervisores de call centers, gerentes... Mas para ser muito bom tem que trabalhar de verdade e estudar muito, né? E aqui vos fala um pessoa para quem a vida deu as condições para ser semi-analfabeta, ter um sub-emprego, casar e ter muitos filhos, assim como os seus pró e genitores. Mas a atitude individual é a base da mudança sempre e nós temos grandes exemplos disso no Brasil. Pena que eles sejam escassos. Infelizmente nos países de pessoas acomodadas os maus exemplos são mais bem-vistos ou bem ignorados! Santa indolência!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

China

Nem eu mesma acreditei que estava ali, do outro lado do mundo, e no outro mundo, porque era assim que me sentia. Obviamente não era apenas porque não entendia uma única palavra que escutava ou porque voltei a ser completamente analfabeta. Não... Havia também um quê de surreal nesta viagem. Eu nunca me interessei pela China, nem mesmo quando todas as evidências de que esse era um país fantástico estava bem diante do meu nariz. No final da década de 80, quando a China estava despontando para as “vantagens” do mundo globalizado, eu estava muito preocupada, vivendo o meu próprio conflito global. Eu também era um ser misterioso, inexplorado, reservado e que achava que ninguém reconhecia o meu potencial, como, aliás, acontece com todos os adolescentes. Mas um dia eles crescem, aparecem, mostram que muito do que ouviram finalmente está sendo colocado em prática, juntam o aprendizado com a vontade e a capacidade de realização, e resumindo, tornam-se adultos! Bom, assim foi com a China. Ela cresceu! E muito, ressalte-se. E eu estava lá curtindo o privilégio de ver os conflitos da maturidade desta segunda potência mundial. E põe conflito aí! Afinal, não poderia ser diferente, já que lá é tudo mais, mais, mais... O maior produtor de alimentos, de calçados, tecidos, o mais rico, o mais poluído, o mais confuso, igual, desigual, o mais dominado, dominante... Uma mega indústria em forma de nação! Tudo é produção. Produzir, construir, gerar, criar, copiar, vender, importar, exportar, aprender, saber, fazer... Ao mesmo tempo sorrir, esperar, viver! É difícil às vezes ver um lado mais humano quando temos a impressão de que as pessoas confundem-se com as máquinas: controladas, reguladas, prevenidas, orientadas, não podem falhar, e “literalmente” parecem todas iguais. Na terra onde inventou-se o papel, eu não consigo preenchê-lo. Faltam-me palavras para descrever se estou alegre ou triste. Triste porque sinto falta do meu mundo (aquele que me parecia mais mundo) ou alegre porque partilho do que sempre me venderam como a sabedoria milenar chinesa. Porque apesar de eu fazer uma dura comparação do povo com as máquinas (tempos modernos!), eu consigo enxergar diferentes emoções, eu consigo ver paz interior e plenitude nos olhares. Eu consigo ver, embora não entenda, pois não fui acostumada a contemplar esse "otimismo" que me cerca. Muitos dizem que a revolução aqui está por vir. Que há miséria nos campos e que eles vão destruir os seus recursos naturais, que os pólos produtores estão saturados, que a imposição sobre a natalidade e as facetas convenientes comunistas vão gerar a revolta popular, que isso, que aquilo, blá, blá, blá, não sei... Não enxergo essa revolta latente! Nem poderia, não tenho entendimento e nem permissão para isso. Mas eu acho que deve haver o contentamento com o simples e necessário, com o imposto (no sentido de lei, não aquele que é o mesmo que roubo no Brasil). Eu acho que pode haver a resignação. Ou nem seria isto. Afinal, o poder lá é abertamente ditatorial e provê mais do que o nosso, que é mentirosamente democrático e nada provedor. Eles não vivem numa mentira como nós, ou pelo menos, a mentira não é tão deslavada. É óbvio que a imprensa é censurada e coagida e as pessoas devem permanecer caladas. Por que raios não conseguia acessar meu blog em Shangai??? Mas talvez haja o equilíbrio, e eu acho que...Bom, eu acho que, como dizem os Strokes, SOMA é o que eles tomam. Huxley já devia saber. Na verdade, eu acho que este país está dando um cacete nos outros e é o único que tem a chance real de ser a nova grande potência mundial simplesmente porque pensa e investe em educação mais e mais, para pensar mais e mais (embora o seu pensamento raramente possa ganhar asas). É um país que planeja, assim como todos os outros bem sucedidos, e totalmente diferente do nosso, infelizmente. É um país que tem direcionamentos, embora muitos deles sejam questionávies do ponto de vista moderno e ocidental. O Brasil nunca soube o que é planejamento, e essa cultura se estende para a maioria dos brasileiros. Lamentavelmente talvez as olimpíadas e a Copa no Brasil deixem isso mais claro. Temo que sim e espero que não, mesmo sabendo que as eleições não vão mudar absolutamente nada. Mas é uma pena! Nossa energia é única, nosso céu ainda é azul e o sol ainda brilha. Eu acho que lá é tudo mormo como as bebidas. O café não é quente e coca não é gelada...Exceto o chá. Eu não agüento mais chá, só o chá é perfeito. E se diz chá em chinês como em português, realmente o chá é perfeito até pra pedir. Mas eu odeio chá... As outras palavras são tão difíceis para se dizer em chinês. A única coisa que eu sei é que deve haver certas palavras que são inexistentes no léxico chinês, como por exemplo: por favor, com licença... São expressões que realmente não são usadas, e se são, muito raramente. Eles podiam pegar emprestados do inglês, aquele sempre falso “sorry” e o eficiente “excuse me, please”, mas não...Acho que é bem mais fácil sair esbarrando nas pessoas sem nem olhar na cara e falar gritando como se toda conversa fosse uma discussão. Pra quê cumprimentar os outros, né? Dá muito trabalho, eles têm muita pressa. E sabe, há um tipo de educação que não se aprende na escola... Certas peculiaridades chinesas não fazem falta!

domingo, 20 de junho de 2010

O mundo ficou menos inteligente

Adeus!
Eu acho essa palavra interessante: Adeus! Ela remete a Deus. E a Deus eu agradeço por ter nos presenteado com a presença de uma alma iluminada na Terra que, por sorte ou destino, falava e escrevia em português. Sim, o mundo ficou menos inteligente essa semana.
Eu não posso dizer que sou leitora voraz de Saramago. Ah, não posso mesmo, porque lutei duras noites com minhas teimosas pálpebras para não dormir diante dos ensaios sobre a cegueira e sobre a lucidez. Mas simplesmente posso dizer que valeu à pena. Assim também foi com Machado de Assis e o meu adorado Dom Casmurro, obviamente mantendo as imensas diferenças entre estes romances. Mas quando a gente enfrenta a barreira do nosso despreparo para apreciar grandes obras, a recompensa é eterna. Pois estas obras duram por toda nossa vida.
E a literatura portuguesa perde um de seus melhores representantes modernos. Tempos diferentes, obras inesquecíveis. Camões, Fernando Pessoa, Saramago... Mas nos dias de hoje, para falar além da obra, só podemos citar os nossos contemporâneos, e Saramago foi impecável. Sua ironia e senso crítico que contrastavam com o engajamento por um mundo melhor eram fascinantes. E, para mim, criticar o Lula e o nosso governo, quando todos pareciam anestesiados, foi mais fascinante ainda. Opinar sobre fatos polêmicos sem se preocupar em ser criticado pelo seu próprio país, é uma atitude de coragem. Ele tinha todos os direitos. Ele não era como os portugueses que conheci. Sei que não foram muitos, mas lamento que tive má impressão de todos. Em Portugal apenas presenciei um descaso com a historia de exploração sobre a nossa nação, um preconceito visível contra latino-americanos, negros, pobres, etc, etc. Mas sei que não posso generalizar e jamais falar mal do povo português. A verdade é que Saramago me ajudou e muito neste ponto. Nada como ler e ouvir um homem com uma sensível e aguçada visão de mundo, um homem que satiriza e leva o seu próprio país a pensar e que engrandece a sua nação com um dos prêmios mais importantes que alguém pode receber, um Nobel! Uma honra concedida a uma lenda que encantava o reino da nossa tão adorada língua portuguesa.
Eu queria que ele tivesse tempo ainda de escrever grandes obras, talvez “O comunismo segundo Saramago” ou “ensaio sobre a modernidade”, mas os grandes escritores são sempre mais que suficientes para despertar a nossa mente e sempre vão inspirar novos outros. Espero que especialmente Brasil e Portugal colham novos frutos da passagem deste grande escritor em nosso mundo. Adeus, Saramago!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Eu blogo, tu blogas

Eu realmente não preciso de pretextos para escrever, eu preciso é de pré-textos (rs). E, é claro, o consentimento do papel e da caneta. Neste caso, do teclado e do monitor...
Concordo plenamente com Virginia Woolf: “Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial.” E acho que é mesmo óbvio, já que muitos escrevem e poucos são lidos. Outro dia me perguntaram: você tem blog? Por que você não divulga? E eu pensei: É claro! Por que não? Se eu gosto do que escrevo, as outras pessoas também vão gostar, não é mesmo? Não. Não é mesmo!
Há pessoas que de fato escrevem para os outros e há pessoas que tentam, mas não conseguem. O último é o meu caso. Escrever para os outros requer estudos, cuidados, restrições e fundamentalmente talento e carisma. Mas não é nisso que acho graça. Gostaria, claro, de ter muito conhecimento, talento e carisma, mas gostaria mais de ser livre e ter prazer. Porque, na maioria das vezes, escrever é um processo de autoconhecimento. Quando escrevemos, somos diferentes. Podemos expor pensamentos que não se revelam em diálogos nos contextos do nosso cotidiano. Podemos expor dramas, conflitos, inclinações e opiniões que não merecem (ou acreditamos que não mereçam) ser compartilhados com outras pessoas, mesmo que estas pessoas sejam próximas e íntimas.
O diário de Anne Frank foi um dos primeiros livros que li e amei, e o que me chamava a atenção é que, para mim, a escrita de Anne simplesmente não condizia com a menina frágil, inexperiente e tímida, que vivia num mundo frio em uma época de medos e incertezas. Eu entenderia se ela estivesse revoltada, se escrevesse como uma adolescente reticente e que clamasse que aquilo não era justo, detalhasse sua rotina de forma casual, como observamos nos blogs de adolescentes hoje em dia. Mas não, Anne revelava-se nas paginas. Uma menina que estava tentando encontrar e entender o seu lugar no mundo, uma menina que tinha os seus receios, medos e opiniões, mas que era inevitavelmente otimista e criativa. Eu sentia que conhecia Anne.
Mais surpreendente foi quando vi uma entrevista de Otto Frank, o pai sobrevivente, que ignorava o diário de sua filha e ficou abismado quando leu. Ele percebeu que não sabia nada sobre Anne e admitiu que gostaria de ter sabido.
E assim é até hoje com muitos pais. Assim como Otto, eles não conhecem seus filhos, e nós não conhecemos as pessoas que estão ao nosso redor. E quando de repente lemos o que elas escrevem, é como se tivéssemos sido privados de parte destas pessoas, elas começam a ser vistas com outros olhos. Podem ser olhos de crítica, de desapontamento ou de admiração.
Às vezes faltam-nos palavras e certas coisas só podem ser expressas em gestos, Mas também, muitas vezes os gestos não cabem e as palavras ditas não são equivalentes às escritas. Às vezes só a escrita compreende uma emoção.
Quando era adolescente e amava Cazuza, eu costumava dizer que ouvir música me ajudava a descarregar minha metralhadora cheia de mágoas. Hoje, escrever é o que me ajuda a descarregar essa metralhadora. Mágoa não é exatamente a carga. Às vezes pessimismo, às vezes otimismo, às vezes frustração, espanto, ânimo, ansiedade...
Eu costumava criticar os blogs e achava que as pessoas gostavam de se expor e não tinham o que dizer. Eu não queria escrever porque não era escritora. Mas aí comecei a pensar que outros canais de comunicação existiram e foram explorados por diversas pessoas com e sem talento, e contribuíram para fatos importantes como também foram diversas vezes inúteis. O rádio, o jornal, a TV... A grande diferença é que a blogosfera é feita por quem quiser fazê-la: os que ocupam-se em comentar sobre celebridades, os que ocupam-se em pesquisar e atualizar os conhecimentos de diversas pessoas sobre assuntos específicos e por vezes bem peculiares, os que ocupam-se em falar da sua vida e os que ocupam-se em fazer o que quiser pelo simples prazer de escrever. Eu não sou cantora, mas gosto de cantar. Sou desafinada, não serviria para o rádio, mas eu faço um sucesso no meu banheiro. Se eu disser que o blog é como o nosso banheiro, vai soar bem estranho... Mas é a sensação que tenho (e que é justificável quando utilizamos o nosso espaço para escrever merda).
A verdade é que, registrada nestas páginas está uma parte da nossa vida e da nossa visão de mundo em um determinado momento. Vamos analisar-nos daqui à 10 anos e comparar nossas novas e velhas visões (a minha com certeza estará mais míope, é claro). E talvez possamos chegar à conclusão de que evoluímos. Somos mais tolerantes, resignados, menos ansiosos. Talvez tenhamos mais disciplina para escrever e não somente possamos conhecer-nos melhor como também tenhamos outros conhecimentos para compartilhar. Podemos perceber que aprendemos a escrever melhor, e quem sabe até, podemos deixar uma pequena amostra de nós mesmos para aqueles que um dia tiverem curiosidade sobre a nossa passagem neste mundo. Podemos parar por aqui e dizer que blogs não acrescentam nada. Podemos, mas não queremos. É um vício. Daí, inclusive, surgiu o nome: we blog...

terça-feira, 15 de junho de 2010

ALL WE NEED IS LOVE!

E se todas as pessoas realmente acreditassem nesta frase? Se realmente tivéssemos consciência de que tudo que precisamos é AMOR? Se soubéssemos quanto as nossas demonstrações de carinho, respeito, gentileza e solidariedade são importantes na construção de um mundo melhor?
Acho que sabemos, mas esquecemos. Paulatinamente perdemos a noção da importância do amor em nossas vidas. E como isso foi acontecer?
Não sei. Realmente não sei, mas precisamos descobrir urgentemente.
Já vivemos em tempos de completo egocentrismo. Ora, blogs como este são a prova disso (mea culpa). A prova de que achamos que nossas opiniões são interessantes e dignas de destaque. Bom, que pelo menos elas sejam realmente úteis... Ou tentem ser.
Outro dia estava lendo o clássico 1984 de George Wells (e inclusive me perguntando como sobrevivi tantos anos sem esta obra) e percebi que de certa forma a internet é um 1984 às avessas. Criamos voluntariamente uma “novilíngua” e cada dia emburrecemos voluntariamente, sempre centralizados nas nossas necessidades. Será que é por isso que somos tão mal educados? Porque nosso vocabulário ficou pequeno demais para dizer: “obrigado”, “por favor”, “você tem razão”, “eu não sei” e principalmente as partes mais importantes do nosso léxico que correspondem às desculpas e aos elogios. Não sei. Continuando a comparação com 1984, voluntariamente uma infinidade de internautas e “realinautas” querem o Grande Irmão, acham que precisam ser enxergados, observados, como se eles tivessem muito a dizer, como se fossem fundamentais para o sistema. E citando Wells novamente, eles querem ser mais iguais que os outros, mas hipocritamente dizem sempre que são TODOS IGUAIS.
Se a máxima “Amai-vos uns aos outros” ainda é a lei que comanda a vida das pessoas como chegamos a este ponto? Bom, talvez porque ela nunca tenha sido, né?
Tenho presenciado tantas cenas, tantos gestos, tantas provas de desamor que fico pensando onde tudo isso vai dar um dia. Filhos que não respeitam e não se importam com seus pais, tratando-os como seus empregados, seus escravos ou o seu banco particular. Maridos tratando esposas como sua propriedade, diminuindo-as para que com a auto-estima ferida talvez elas dêem a eles o devido valor.
Clientes que tratam empregados e atendentes como uma porta, ou como um trampolim que utilizam para saltar alegremente rumo à sua suposta superioridade.
Chefes tratando subordinados como peças de sua coleção Lego:
- Ops, menos um da Lego City! Menos um para tomar o meu lugar! Essa peça não encaixa...
Funcionários que acham que dão demais e recebem de menos porque aprenderam que apenas graduar-se e estudar é suficiente para conseguir bons cargos. Lamentavelmente não os ensinaram na faculdade a ter criatividade, jogo de cintura, lidar com situações difíceis e embaraçosas e, é claro, o mais importante: saber que fazer um café e passar um pano no chão não o fará menos inteligente ou menos importante.
Que espécie de amor as pessoas buscam na religião? Que amor faz com que as pessoas se choquem ao ver dois homens se beijando na rua, mais do que ver crianças dormindo no chão e passando fome, abandonadas como cachorros? Que amor faz parte da vida das pessoas que perdoam e utilizam esse perdão como vingança ou opressão?
Não sei também. Apenas aprendi que o único amor que interessa é uma espécie denominada INCONDICIONAL. Eu nunca vi essa espécie pessoalmente, você já?
Mas tenho esperanças, sempre! E enquanto eu não encontro essa raridade, vou treinando com um pouquinho de respeito, algumas doses de desapego, altruísmo, solidariedade, carinho e atenção. Queria mais, é claro! Estou tentando. Todos podem, eu recomendo!
(Ao som do tema do meu bloguinho...rss)

sábado, 3 de abril de 2010

Lennon lives!


Sei que sou uma pessoa absolutamente suspeita por falar algo sobre John Lennon.
Aliás, sei que sou absolutamente suspeita por falar sobre tudo, pois quem é contra o governo, a Globo, a constituição e o Papa, é completamente suspeito.
Mas isso realmente não importa, já que afinal de contas eu não tenho voz. Como quase todos aqueles que criticam o chamado “sistema”, eu sou muda. E por isso eu deveria estar triste, desapontada e cética ao ver esse filme. Mas não. Eu estou feliz!
Vou elogiar muito o filme e recomendar várias vezes, embora eu tenha quase certeza de que ninguém que eu conheço tem o menor interesse em vê-lo.
Mas eu estou feliz! Primeiro, porque fizeram um filme sobre o meu ídolo. Segundo, porque existiu alguém como ele, diga-se de passagem, palpável e visível. E mesmo que venha a ser o único, valeu a pena! Estou feliz porque o filme mexeu comigo, fez com que eu me sentisse alienada e impotente para lutar contra aquilo que eu acredito que está errado. E eu estou feliz por me sentir assim. Por me sentir constrangida. Eu me constranjo!
Eu me constranjo com um governo que constrói o seu império livre de critica e oposição na base de mentiras, escândalos, esmolas, promessas vãs e pessoas perigosamente manipuláveis. Eu me constranjo com artistas limitados, sem talentos, sem opiniões e sem ousadia que povoam a maioria dos meios de comunicação aos quais a nossa população tem acesso. Eu me constranjo com comediantes sem graça que só fazem piadas idiotas sobre temas previsíveis na sua zona de conforto, sem engajamento, sem provocação, sem ironia e, logicamente, sem humor. Eu me constranjo em ver passeatas contra o direito dos homossexuais, discursos hipócritas na mídia e proibição da verdade nas novelas, a maior fonte de "informação" e "cultura" da nossa população. Eu me constranjo quando vejo um bando de ociosos manipulados em frente a um tribunal para ver réus pré-condenados pela mídia e que, com certeza, não passarão nem 10 anos na cadeia por um crime hediondo, como assassinar a própria filha, porque vivem num país sem lei. O mesmo país em que 150 milhões de votos são dados para um boçal (big-bosta) ganhar mais de R$ 1 mi na Globo, mas um quinto desses votos não é dado em forma de assinatura num abaixo-assinado para um ativista como, por exemplo, o Sr. Masataka Ota, conseguir que a lei seja mudada e seja concedida prisão perpétua agrícola para os condenados por aqueles tais crimes hediondos.
Eu me constranjo ao comemorar a realização das Olimpíadas numa cidade dominada pelo tráfico de drogas e completamente sem estrutura, pois o dinheiro dos investimentos para tal evento será desviado para bolsos de políticos corruptos, aqueles nos quais a população vota sem o menor conhecimento sobre sua origem ou seus feitos, especialmente os seus “mal feitos”. E eu me constranjo em saber que nesta guerra civil morrem tantos inocentes quanto morreram alguns soldados americanos e civis no Vietnã. E ela é “aceita” pela nossa sociedade, inclusive por alguns artistas “engajados” que vão nas favelas dominadas pelos tais senhores da guerra para promover a sua “arte”.
Eu fico feliz que houve um dia um artista com voz, coragem e opinião, que usou da sua popularidade e notoriedade para algum movimento útil, que influenciou a percepção de diversas pessoas e chamou-as para a reflexão tão necessária para a sobrevivência da democracia e da genuína liberdade de expressão.
Imagine aqui no Brasil a Ivete Sangalo ou o Roberto Carlos criticando o Sr. Lula por estreitar relações com um ditador, assassino e covarde, como o Sr. Mahmoud Ahmadinejad? Imagine!
Imagine artistas se posicionando de verdade em relação aos mais diversos temas como as cotas nas universidades, a re-reeleição, a lei seca, a fidelidade partidária e blá-blá-blá-sei-mais-o-quê!
Imaginou? Imaginou? Não, né? Eu nem consigo imaginar artistas atualmente... Deve ser por isso que todos os meus ídolos estão teoricamente mortos. Teoricamente, porque ontem fui ao cinema e vi que um deles ainda vive, produzindo reação e emoção nas pessoas. E não é esse o objetivo da arte? The dream is not over!

quinta-feira, 18 de março de 2010

O coração de Cora

Nossa! Tanto tempo sem postar nada e quando volto, trago toda essa crítica às mulheres? Que chata que eu sou!!!!!
Não é bem assim... É também uma autocrítica (com ou sem hífen, e agora?)! Eu também sou mulher, afinal. Mas acho que criticar é uma forma de aprender, né? E de fazer inimigos também...rsss
Para amenizar, deixo uma poesia que amo, de outra mulher que admiro demais. Uma mulher simples e cativante que, quietinha no seu cantinho, encontrou uma forma de se tornar eterna, fazendo da sua imaginação uma fábrica de belos poemas e encantando o coração de outras sensíveis mulheres e homens também. Citando-a, eu também digo: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
Doce nome de pronunciar: Cora Coralina.

Saber Viver

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar

terça-feira, 9 de março de 2010

8 de março - Parabéns, mulheres! Parabéns?

E novamente passou! As comemorações aconteceram como sempre: pouquíssimos movimentos de cunho intelectual, pouquíssima reflexão sobre o real significado deste dia e muitos, mas muitos, emails dizendo como somos sensíveis, maravilhosas e lindas, comparando-nos com rosas, mãe natureza, leoas, tigresas, blá, blá, blá... E muitos bombons e flores, e lá se vai mais um ano em que uma data tão importante perde a sua essência estimulada pelo consumismo e a alienação. Não quero ser chata. Não que eu não goste de flores e bombons, pelo amor de Deus! Gosto até demais! Mas vamos além disso, por favor!
As mulheres precisam acordar. Dirijo esta frase, que não sei de quem é, mas que serve para nós todas: “Aproveitemos bem o tempo! Já é bem mais tarde do que pensamos!”
Desde a morte de Zilda Arns, uma das mulheres mais marcantes que o Brasil já teve depois da irmã Dulce, venho pensando como temos tão poucas mulheres exemplares ultimamente. É lamentável, mas é só olhar ao redor e perceber. Na mídia, carreiristas cujo maior feito é aumentar o número de exemplares da Playboy. As grandes (mais famosas) apresentadoras da nossa TV não passam de prostitutas de luxo que escolheram bem com quem dormir para se promover e conquistar o seu lugar ao sol. Esqueçamos algumas das mais antigas que têm atitudes inovadoras como, por exemplo, dar selinho nos seus convidados...
Em sua maioria, elas ajudam a estimular o ciclo da alienação, pregam a auto-estima feminina resumindo-a em dietas idiotas e reforçando o padrão das bonitas e vazias (literalmente). São aquelas que vão ler o conteúdo dos emails acima citados nos seus programas matutinos, vespertinos, noturnos, dominicais...todos iguais! Haja saco!
Na música, você já sabe: a bunda! Abundam refrões idiotas, mudanças estéticas para um público fascinado por mulheres plásticas (que é composto, em sua maioria, justamente por mulheres), escassez de letras, pouca poesia, pouca informação e muita futilidade. E infelizmente isso não é privilégio apenas do Brasil. Nós estamos até “menos piores”. Deve ser apenas porque ainda somos um país “em desenvolvimento”. Meu Deus!
Mas é na política que abunda o meu desgosto! Ai, como abunda! Lembro o que senti quando há alguns anos (põe anos aí) despontou na mídia uma mulher moderna e liberal que eu achava que ainda ia admirar muito, apesar de logo em seguida ela se filiar a um partido que não sou muito fã, o da estrelinha, sabe? Ela teve a oportunidade de governar a cidade mais importante do país e aproveitou bem. Bem mal! Para fazer igualzinho ou pior do que os homens. Esqueceu, por exemplo, áreas de saúde e educação, o que para as suas eleitoras era inadmissível. Não influenciou nos programas que privilegiavam a condição da mulher e pior que tudo isso: tempos depois quebrou a cara e arruinou a sua imagem com comentários infelizes, e pasmem, preconceituosos. Alguns, desculpe-me os homens, tipicamente masculinos.
E isso me revolta não só na política, mas nos mais altos cargos de algumas empresas também. Quando a mulher finalmente chega lá no topo, ou quase lá, porque no topo mesmo ainda é muito difícil para nós, no geral, elas têm essa tendência de querer fazer exatamente como os homens. Elas são duras, são frias e elas não se aliam às outras mulheres, pelo contrário. E isso é explícito, todos vêem. Elas se atritam.
No meu dia-a-dia sempre vejo isso. E para mim é fácil observar, pois sempre preferi trabalhar com mulheres. Me dou o direito de ter essa preferência sem me culpar por ser sexista ou preconceituosa, mas na área comercial vejo mais resultados na delicadeza e no comprometimento das mulheres, na sua capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo e, acredito sim, que em outras áreas o sexo também possa fazer a diferença, seja pela força física, seja pela disponibilidade de horários ou apenas pela sensibilidade. Enfim, concordo com o pensamento de uma outra grande mulher, Rose Marie Muraro, que costuma dizer: “mulheres e homens precisam ter direitos iguais, respeitando-se as diferenças”. Ou seja, as diferenças existem e em algumas profissões elas são determinantes.
Mas voltando ao meu caso, também tem um quê de não desperdiçar oportunidades. Ora, por que não dar oportunidades para mulheres se eu posso? Por que não as estimular para que estudem, pesquisem e cresçam profissionalmente e ensiná-las tudo o que eu sei para diminuir a minha carga, que como para a maioria das mulheres, vamos combinar, é maior do que a de qualquer homem que exerça o mesmo trabalho? Sendo que eu sei, e todas sabem, que no fim das contas, são eles que ganham mais.
Mas aí quando eu acho que estou no caminho certo, o que às vezes me deprime é ver que algumas se especializam mais na arte da fofoca e da intriga do que no intuito de fortalecer essa corrente. Poucas se ajudam, muitas se acusam e elas não se unem para crescer. Isso é regra? Não, não é! Mas infelizmente também não é exceção! Muitas são assim e eu não tenho certeza se é por natureza, mas desconfio que esse comportamento venha da criação, passando de geração para geração.
Nestas horas me lembro do maravilhoso filme “A cor púrpura”, em que a personagem de Whoopi Goldberg, uma moça abusada física e psicologicamente por todos os homens de sua vida, aconselha ao enteado, quando este está em dúvida sobre o que fazer com sua mulher forte e dominadora, dizendo: Bate nela! Ah, faça-me o favor! Parece ridículo, mas se prestarmos bem atenção, algumas mulheres fazem isso. Eu prefiro acreditar que inconscientemente, mas fazem! É preciso admitir para mudar!
E é por isso que admiro tanto Oprah Winfrey, por coincidência a mulher que faz a personagem forte que citei acima. Assim como no filme, Oprah sempre foi lutadora. E hoje, na vida real, é uma das mulheres mais bem sucedidas de todos os tempos. Inteligente, observadora, eloqüente, e o que é melhor, visionária, sensível e também feminina. Que usa de todo o seu poder e sucesso para ajudar... Outras mulheres!
Ela podia ter uma instituição na África que ajudasse não somente meninas, mas também meninos carentes. Mas quem afinal, nos países mais subdesenvolvidos, é mais impedido de estudar? Quem ainda sofre de abusos constantes, incluindo mutilação de seus órgãos genitais e estupros freqüentes inclusive por membros de sua própria família? Quem, no fim, será sozinho responsável pela saúde e a educação de sua família na maioria dos casos? Quem ainda não tem voz?
Parabéns, Oprah! Quando finalmente as mulheres perceberem isso, talvez elas possam acreditar que de fato vão mudar o mundo! Porque felizmente “ainda” não somos a causa do início do fim. Os grandes ditadores, os genocidas e os piores líderes da história da humanidade são homens! Os presidentes de grandes empresas que destroem o meio ambiente são homens! E os políticos corruptos, hipócritas e capazes de matar para manter-se no poder também são homens! Mas será que quando chegarmos lá, no topo, faremos diferente? Tenho dúvidas...
Aqui mesmo no Brasil eu queria muito poder dizer que há uma mulher que pode ser chefe desta nação e ela será diferente de tudo que já vimos. E pelo que tenho visto, sinto que até por uma questão de sobrevivência, ela será exatamente igual. E em alguns aspectos, ela pode ser pior! O que mais me entristece é que a maioria do eleitorado quer que ela seja igual. Será que a massa pensante deste país quer tudo igual? E que massa é essa? Li recentemente que 70% dos estudantes universitários brasileiros hoje são mulheres, 45% dos trabalhadores (oficialmente) são mulheres. E onde estamos mostrando a força destas mulheres? Com certeza não está na capa da Playboy...
As mulheres precisam de uma chacoalhada para a realidade. A julgar por estes números, é nítido que não somos mais cinderelas. Não podemos mais perder tempo com futilidades e príncipes encantados. Homens não compram toneladas de revista de boa forma para agradar-nos, porque eles sabem que gostamos deles por apenas duas razões: por quem eles realmente são ou pelo dinheiro que eles têm. E isso é uma das coisas que podemos copiar dos homens. Precisamos nos gostar do jeito que somos porque as revistas são compostas de mentiras que não nos levarão a lugar algum e temos que correr atrás do nosso dinheiro e da nossa independência, pois a verdade é que, para a maioria dos homens, somos apenas descartáveis.
Que as jovens comecem a pensar mais nisso antes de engravidarem e deixarem seus filhos sem pais, já que boa parte dos homens não se vêem na obrigação de assumir a responsabilidade, e as mulheres sempre têm a obrigação de ir à luta. Que as meninas percam menos tempo tomando remédios para emagrecer e mais tempo estudando e adquirindo conhecimento para um dia ter a capacidade de fazer algo realmente bom e impactante na nossa sociedade. Algo com um toque genuinamente feminino. Que tenhamos sempre, ano após ano, mais e mais motivos para comemorar o dia 8 de março!