sexta-feira, 18 de junho de 2010

Eu blogo, tu blogas

Eu realmente não preciso de pretextos para escrever, eu preciso é de pré-textos (rs). E, é claro, o consentimento do papel e da caneta. Neste caso, do teclado e do monitor...
Concordo plenamente com Virginia Woolf: “Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial.” E acho que é mesmo óbvio, já que muitos escrevem e poucos são lidos. Outro dia me perguntaram: você tem blog? Por que você não divulga? E eu pensei: É claro! Por que não? Se eu gosto do que escrevo, as outras pessoas também vão gostar, não é mesmo? Não. Não é mesmo!
Há pessoas que de fato escrevem para os outros e há pessoas que tentam, mas não conseguem. O último é o meu caso. Escrever para os outros requer estudos, cuidados, restrições e fundamentalmente talento e carisma. Mas não é nisso que acho graça. Gostaria, claro, de ter muito conhecimento, talento e carisma, mas gostaria mais de ser livre e ter prazer. Porque, na maioria das vezes, escrever é um processo de autoconhecimento. Quando escrevemos, somos diferentes. Podemos expor pensamentos que não se revelam em diálogos nos contextos do nosso cotidiano. Podemos expor dramas, conflitos, inclinações e opiniões que não merecem (ou acreditamos que não mereçam) ser compartilhados com outras pessoas, mesmo que estas pessoas sejam próximas e íntimas.
O diário de Anne Frank foi um dos primeiros livros que li e amei, e o que me chamava a atenção é que, para mim, a escrita de Anne simplesmente não condizia com a menina frágil, inexperiente e tímida, que vivia num mundo frio em uma época de medos e incertezas. Eu entenderia se ela estivesse revoltada, se escrevesse como uma adolescente reticente e que clamasse que aquilo não era justo, detalhasse sua rotina de forma casual, como observamos nos blogs de adolescentes hoje em dia. Mas não, Anne revelava-se nas paginas. Uma menina que estava tentando encontrar e entender o seu lugar no mundo, uma menina que tinha os seus receios, medos e opiniões, mas que era inevitavelmente otimista e criativa. Eu sentia que conhecia Anne.
Mais surpreendente foi quando vi uma entrevista de Otto Frank, o pai sobrevivente, que ignorava o diário de sua filha e ficou abismado quando leu. Ele percebeu que não sabia nada sobre Anne e admitiu que gostaria de ter sabido.
E assim é até hoje com muitos pais. Assim como Otto, eles não conhecem seus filhos, e nós não conhecemos as pessoas que estão ao nosso redor. E quando de repente lemos o que elas escrevem, é como se tivéssemos sido privados de parte destas pessoas, elas começam a ser vistas com outros olhos. Podem ser olhos de crítica, de desapontamento ou de admiração.
Às vezes faltam-nos palavras e certas coisas só podem ser expressas em gestos, Mas também, muitas vezes os gestos não cabem e as palavras ditas não são equivalentes às escritas. Às vezes só a escrita compreende uma emoção.
Quando era adolescente e amava Cazuza, eu costumava dizer que ouvir música me ajudava a descarregar minha metralhadora cheia de mágoas. Hoje, escrever é o que me ajuda a descarregar essa metralhadora. Mágoa não é exatamente a carga. Às vezes pessimismo, às vezes otimismo, às vezes frustração, espanto, ânimo, ansiedade...
Eu costumava criticar os blogs e achava que as pessoas gostavam de se expor e não tinham o que dizer. Eu não queria escrever porque não era escritora. Mas aí comecei a pensar que outros canais de comunicação existiram e foram explorados por diversas pessoas com e sem talento, e contribuíram para fatos importantes como também foram diversas vezes inúteis. O rádio, o jornal, a TV... A grande diferença é que a blogosfera é feita por quem quiser fazê-la: os que ocupam-se em comentar sobre celebridades, os que ocupam-se em pesquisar e atualizar os conhecimentos de diversas pessoas sobre assuntos específicos e por vezes bem peculiares, os que ocupam-se em falar da sua vida e os que ocupam-se em fazer o que quiser pelo simples prazer de escrever. Eu não sou cantora, mas gosto de cantar. Sou desafinada, não serviria para o rádio, mas eu faço um sucesso no meu banheiro. Se eu disser que o blog é como o nosso banheiro, vai soar bem estranho... Mas é a sensação que tenho (e que é justificável quando utilizamos o nosso espaço para escrever merda).
A verdade é que, registrada nestas páginas está uma parte da nossa vida e da nossa visão de mundo em um determinado momento. Vamos analisar-nos daqui à 10 anos e comparar nossas novas e velhas visões (a minha com certeza estará mais míope, é claro). E talvez possamos chegar à conclusão de que evoluímos. Somos mais tolerantes, resignados, menos ansiosos. Talvez tenhamos mais disciplina para escrever e não somente possamos conhecer-nos melhor como também tenhamos outros conhecimentos para compartilhar. Podemos perceber que aprendemos a escrever melhor, e quem sabe até, podemos deixar uma pequena amostra de nós mesmos para aqueles que um dia tiverem curiosidade sobre a nossa passagem neste mundo. Podemos parar por aqui e dizer que blogs não acrescentam nada. Podemos, mas não queremos. É um vício. Daí, inclusive, surgiu o nome: we blog...

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