domingo, 20 de junho de 2010

O mundo ficou menos inteligente

Adeus!
Eu acho essa palavra interessante: Adeus! Ela remete a Deus. E a Deus eu agradeço por ter nos presenteado com a presença de uma alma iluminada na Terra que, por sorte ou destino, falava e escrevia em português. Sim, o mundo ficou menos inteligente essa semana.
Eu não posso dizer que sou leitora voraz de Saramago. Ah, não posso mesmo, porque lutei duras noites com minhas teimosas pálpebras para não dormir diante dos ensaios sobre a cegueira e sobre a lucidez. Mas simplesmente posso dizer que valeu à pena. Assim também foi com Machado de Assis e o meu adorado Dom Casmurro, obviamente mantendo as imensas diferenças entre estes romances. Mas quando a gente enfrenta a barreira do nosso despreparo para apreciar grandes obras, a recompensa é eterna. Pois estas obras duram por toda nossa vida.
E a literatura portuguesa perde um de seus melhores representantes modernos. Tempos diferentes, obras inesquecíveis. Camões, Fernando Pessoa, Saramago... Mas nos dias de hoje, para falar além da obra, só podemos citar os nossos contemporâneos, e Saramago foi impecável. Sua ironia e senso crítico que contrastavam com o engajamento por um mundo melhor eram fascinantes. E, para mim, criticar o Lula e o nosso governo, quando todos pareciam anestesiados, foi mais fascinante ainda. Opinar sobre fatos polêmicos sem se preocupar em ser criticado pelo seu próprio país, é uma atitude de coragem. Ele tinha todos os direitos. Ele não era como os portugueses que conheci. Sei que não foram muitos, mas lamento que tive má impressão de todos. Em Portugal apenas presenciei um descaso com a historia de exploração sobre a nossa nação, um preconceito visível contra latino-americanos, negros, pobres, etc, etc. Mas sei que não posso generalizar e jamais falar mal do povo português. A verdade é que Saramago me ajudou e muito neste ponto. Nada como ler e ouvir um homem com uma sensível e aguçada visão de mundo, um homem que satiriza e leva o seu próprio país a pensar e que engrandece a sua nação com um dos prêmios mais importantes que alguém pode receber, um Nobel! Uma honra concedida a uma lenda que encantava o reino da nossa tão adorada língua portuguesa.
Eu queria que ele tivesse tempo ainda de escrever grandes obras, talvez “O comunismo segundo Saramago” ou “ensaio sobre a modernidade”, mas os grandes escritores são sempre mais que suficientes para despertar a nossa mente e sempre vão inspirar novos outros. Espero que especialmente Brasil e Portugal colham novos frutos da passagem deste grande escritor em nosso mundo. Adeus, Saramago!

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