segunda-feira, 22 de junho de 2009

Entre a cruz e o contraste



Sempre que penso em preconceito vem à minha cabeça uma gravura de duas mãos cruzadas, uma negra e outra branca, simbolizando a união racial. E sempre tenho a sensação de que um dia a beleza deste contraste vai deixar de ser apenas um símbolo e tornar-se uma realidade.
O preconceito é definido em dicionários como uma idéia concebida sem bases, uma suspeita, intolerância ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc. As crianças aprendem esta definição na escola, que por sua vez é divulgada por universitários, professores, escritores, políticos e muitos outros membros atuantes e influentes na sociedade. E, no entanto, como pode um sentimento oriundo de suposições e impressões causar tanto impacto, e até mesmo tantas tragédias, para a humanidade? Às vezes é difícil acreditar que abolimos a escravatura há mais de 120 anos e que já não existe absolutamente mais nenhuma razão lógica para nós, homens brancos, considerar-nos intelectualmente superiores.
Eu sempre fui contra a radicalização, contra a revolução armada, a ditadura e tantos outros termos antidemocráticos. Mas às vezes me questiono se muitas ações foram no passado utilizadas para o mal, por que não podem ser repensadas para o bem?
Erro histórico, como atualmente define-se a origem do preconceito racial, só pode ser corrigido com ações drásticas. Esperar que surjam idéias perfeitas para solucionar este problema pode realmente sabotar as tentativas que aí estão se complementando. Não é pouco que finalmente tenhamos um presidente negro na maior potência mundial, não é pouco que tenhamos cotas estabelecidas para negros em universidades, para casting em desfiles de moda e, talvez um dia, percentual mínimo em quadros de funcionários de empresas públicas e privadas, cargos políticos e maior representatividade na sociedade. Não é pouco, mas é insuficiente. A mudança deve sempre começar de algum lugar e, lamentavelmente, no preparo desta omelete, muitos ovos terão que ser quebrados.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a proporção de negros no Brasil desde 1993 cresceu de 45,1% para 49,8% , sendo que entre os homens, a população negra é maioria (51,1%), ou seja, a parcela negra da população aumenta e as dificuldades persistem, o tratamento é desigual e o acesso às oportunidades totalmente assimétrico.
Muitos discutirão que cotas e outros tipos de imposições (leis) vão implicar em novas exclusões, que o talento deve prevalecer sobre a raça, que a cor de pele não define o caráter e outros argumentos mais, que são válidos, justos e também óbvios. Esses argumentos são mais do mesmo. Eles não agem, eles não produzem e muitas vezes só servem para adiar atitudes que poderão ajudar muitas pessoas a entender de fato o significado dos dicionários.
A desigualdade racial só começará a cair por terra quando encarada isoladamente como fruto do preconceito e uma herança cultural maléfica, e não apenas, como mais um problema em nossa sociedade. Igualdade para brancos e negros fortalecerá a união destas raças na busca de soluções para demais problemas que são enfrentados desde sempre por ambas, como educação de má qualidade, violência urbana e também a desigualdade social como um todo.



Gina Ferreira 22/06/09

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