quarta-feira, 28 de março de 2012

O céu está cheio de graça

As águas de março fecham o verão e as mortes deste março estão fechando uma era, a do humor inteligente. Não, não é pessimismo. É uma constatação.
Quando escrevi aqui há dois anos sobre Michael Jackson, estava falando de um tipo raro no cenário musical, um artista completo, insubstituível. Agora falo de humoristas.
É claro, como dizia Chico Anysio, todos somos insubstituíveis. Pois então, constate-se, não existem mais Chicos e Millores por aí. E não haverá, já que haverá outro tempo, outros espectadores, outros leitores, outros apreciadores. Não se pode negar que o humor inteligente está perdendo o seu espaço. E digo isso com a esperança de quem um dia aqui defendeu um representante da nova geração, Danilo Gentili.
Mas é diferente, Millôr e Chico eram de uma erudição invejável. Tinham talentos múltiplos e não se contentavam em simplesmente fazer humor, eram homens de fazer a diferença. Eram críticos, eram formadores de opinião, eram gênios, e, por incrível que pareça, populares.
Não sei na verdade se ainda há espaço no nosso país (ou até no nosso mundo) para inteligência e popularidade. As páginas mais acessadas da internet são prova disso, não há nada de relevante ou inteligente na maioria delas.
O fato é que minha vida mudou. Chico Anysio já fazia parte de uma deliciosa parte da minha infância, do Tim Tones, do Cascata, do Jovem, e depois me preparou com o seu humor futurista para entender o gênio Millôr. Este me guiou com suas piadas, charges, crônicas por essa vida caótica. Minha bíblia era a "do caos". E foi através deste livro também que encontrei o meu grande amor... Pois é, além de cultura e risadas, Millôr me deu sorte!
Só posso dizer que o céu agora deve estar cheio de graça e aqui o caos segue em frente com toda a calma do mundo... Mas talvez seja só pessimismo mesmo da minha parte, ou tristeza, pois com Millôr foi um pouquinho da minha história. Mas é a vida, e como diz um dos meus hai-kais preferidos...

"Goze.
Quem sabe essa
é a última dose?"

Adeus! E muito obrigada, Millôr!

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