A pessoa que escreve
este blog é tão diferente daquela que o iniciou que chega a ser assustador o
fato de que ambas tenham dividido o mesmo corpo. Bom, não necessariamente. O
corpo, este sim, definitivamente não é o mesmo...rs Mas todos os “eus” que já o habitaram
têm em comum a fascinação pela passagem dos anos, suas consequências e ficamos abismados com esta velocidade, percebendo que os primeiros textos desta página têm mais de uma década!!!!
Tantas músicas, poesias, e
outras expressões artísticas já foram feitas inspiradas na mágica da passagem
do tempo e tão poucos continuam tão impactados pelo seu poder. O tempo é inegavelmente
um objeto de luxo. E pensar sobre ele talvez seja
desestimulante porque temos consciência de ele nos atropela e nos ignora. É menos estressante não pensar. É o que penso ao mesmo tempo em que me estresso...
Mas estou tentando não apenas pensar e também me conectar mais com esta passagem. Tenho a impressão de que uma boa maneira de fazer isto é aproveitar os momentos de ócio sem culpa. Claro que existem diversas estratégias de otimizar o tempo, conciliar uma vida de tarefas múltiplas, definir prioridades, etc, etc...Mas e o tão necessário ócio? Pois é! Saio do óbvio e entendo que entre todas as estratégias de otimizar o tempo, o ócio é a que menos está sendo colocada neste balaio.
Mas estou tentando não apenas pensar e também me conectar mais com esta passagem. Tenho a impressão de que uma boa maneira de fazer isto é aproveitar os momentos de ócio sem culpa. Claro que existem diversas estratégias de otimizar o tempo, conciliar uma vida de tarefas múltiplas, definir prioridades, etc, etc...Mas e o tão necessário ócio? Pois é! Saio do óbvio e entendo que entre todas as estratégias de otimizar o tempo, o ócio é a que menos está sendo colocada neste balaio.
Então volto pra cá e escrevo. Eu escrevo porque gosto, porque medito, porque
me distraio, porque me divirto e, sobretudo, de verdade porque eu posso, assim como diversos macacos da minha espécie. Esta pinça mágica formada pelos nossos
dedos é indiscutivelmente humana, e isso é fantástico! A escrita é um dom possibilitado por funções
no nosso córtex cerebral da qual somente nós podemos usufruir. Ou seja, muitos macacos
podem teclar em um smartphone e/ou assimilar algumas de suas funções, isto não é o que nos diferencia. Talvez
eles possam tirar uma foto e postar em uma mídia social, não me
surpreenderia. Mas, apesar de tudo o que nós ainda temos a aprender com os outros
macacos, eu diria que neste ponto nós somos privilegiados. As conexões que
nosso cérebro faz enquanto escrevemos e elaboramos um texto são incríveis e
esta mágica de reproduzir ideias com tinta e papel (acessórios tão banais
atualmente) nunca vai deixar de me fazer feliz e sentir que estou aproveitando
bem o tempo enquanto a executo.
Ora, mas isto não seria
então ócio criativo? Pode ser. Desde que seja ócio, desde que seja sem culpa.
Desde que eu exercite os dedos e perceba que em cada novo texto eles estejam cada vez menos cansados e mais coordenados. Sentir que não estou perdendo esta habilidade
me revigora, mesmo que depois eu queira transferir o texto para um
computador e arquivá-lo.
Muito se fala sobre o
fim da escrita e muitos acreditam que ela será inútil daqui a alguns anos.
Muito se fala sobre um
novo tipo de aprendizado, que no futuro as novas gerações não terão necessidade
e muito menos o hábito de ler tantos livros, que a comunicação será de uma forma totalmente
diferente e os recursos de imagens é que serão fundamentais, as mídias sociais
terão um papel bem mais relevante nas relações humanas.
E eu de fato pensei
bastante a respeito, sem preconceitos, sem uma visão unilateral ao mesmo tempo
em que tento me inserir nesta nova ordem mundial. Como disse antes, temos muito a aprender
com os macacos, especialmente alguns comportamentos de sociabilidade. Mas
quando eu penso num futuro sem escrita e sem leitura, na minha mente vem apenas
aquela famosa gravura da involução humana. Eu não acredito que apenas a nossa
coluna tende a atrofiar, eu acredito que o nosso cérebro tende a diminuir. E enquanto
padeço desta descrença na evolução do aprendizado sem estas velhas ferramentas,
eu quero utilizá-las como se não houvesse amanhã.
Estive em um médico endocrinologista esta semana e ele me comentou que quando se formou tinha uma impressão sobre o futuro que era a mesma que eu tinha quando era criança na década de 80: que as
pessoas se alimentariam somente de pílulas e cápsulas, alimentos congelados, reidratados, nutrientes condensados e a comida de verdade praticamente não seria mais necessária. Essa era
realmente a nossa visão de mundo influenciada por filmes de ficção,
aparecimento de diversos complexos vitamínicos milagrosos, astronautas visitando outros planetas e a velha falta de
tempo para cozinhar em meio à nova rotina que estava surgindo.
Mais de trinta anos
depois, com o tempo ainda mais escasso, o que vemos é algo totalmente
diferente, as pessoas cada vez mais buscando a alimentação parecida com
a dos nossos avós, alimentos orgânicos, menos uso de micro-ondas e de ingredientes
processados. Hoje os grandes nomes da gastronomia convidam a população a voltar
para suas casas e cozinharem o seu próprio alimento, de forma cada vez mais
natural. Isto é involução? Quando olhamos para o mundo cada vez mais obeso de
um lado e desnutrido de outro, temos a certeza que não.
E eu quero continuar lendo os meus romances (sim, diferente de crônicas e
contos, aqueles textos mais longos, detalhistas e complexos dos quais os
ansiosos fogem como o diabo da cruz) e usando minhas canetas por muitos e muitos anos, os que restam,
no mísero espaço de tempo disponível que eu puder dispor. Espero conseguir. Esta folha foi sem culpa.