domingo, 29 de julho de 2018

Passando o tempo (a limpo?)




A pessoa que escreve este blog é tão diferente daquela que o iniciou que chega a ser assustador o fato de que ambas tenham dividido o mesmo corpo. Bom, não necessariamente. O corpo, este sim, definitivamente não é o mesmo...rs Mas todos os “eus” que já o habitaram têm em comum a fascinação pela passagem dos anos, suas consequências e ficamos abismados com esta velocidade, percebendo que os primeiros textos desta página têm mais de uma década!!!!
Tantas músicas, poesias, e outras expressões artísticas já foram feitas inspiradas na mágica da passagem do tempo e tão poucos continuam tão impactados pelo seu poder. O tempo é inegavelmente um objeto de luxo. E pensar sobre ele talvez seja desestimulante porque temos consciência de ele nos atropela e nos ignora. É menos estressante não pensar. É o que penso ao mesmo tempo em que me estresso...
Mas estou tentando não apenas pensar e também me conectar mais com esta passagem. Tenho a impressão de que uma boa maneira de fazer isto é aproveitar os momentos de ócio sem culpa. Claro que existem diversas estratégias de otimizar o tempo, conciliar uma vida de tarefas múltiplas, definir prioridades, etc, etc...Mas e o tão necessário ócio? Pois é! Saio do óbvio e entendo que entre todas as estratégias de otimizar o tempo, o ócio é a que menos está sendo colocada neste balaio. 
Então volto pra cá e escrevo. Eu escrevo porque gosto, porque medito, porque me distraio, porque me divirto e, sobretudo, de verdade porque eu posso, assim como diversos macacos da minha espécie. Esta pinça mágica formada pelos nossos dedos é indiscutivelmente humana, e isso é fantástico! A escrita é um dom possibilitado por funções no nosso córtex cerebral da qual somente nós podemos usufruir. Ou seja, muitos macacos podem teclar em um smartphone e/ou assimilar algumas de suas funções, isto não é o que nos diferencia. Talvez eles possam tirar uma foto e postar em uma mídia social, não me surpreenderia. Mas, apesar de tudo o que nós ainda temos a aprender com os outros macacos, eu diria que neste ponto nós somos privilegiados. As conexões que nosso cérebro faz enquanto escrevemos e elaboramos um texto são incríveis e esta mágica de reproduzir ideias com tinta e papel (acessórios tão banais atualmente) nunca vai deixar de me fazer feliz e sentir que estou aproveitando bem o tempo enquanto a executo.
Ora, mas isto não seria então ócio criativo? Pode ser. Desde que seja ócio, desde que seja sem culpa. Desde que eu exercite os dedos e perceba que em cada novo texto eles estejam cada vez menos cansados e mais coordenados. Sentir que não estou perdendo esta habilidade me revigora, mesmo que depois eu queira transferir o texto para um computador e arquivá-lo.
Muito se fala sobre o fim da escrita e muitos acreditam que ela será inútil daqui a alguns anos.
Muito se fala sobre um novo tipo de aprendizado, que no futuro as novas gerações não terão necessidade e muito menos o hábito de ler tantos livros, que a comunicação será de uma forma totalmente diferente e os recursos de imagens é que serão fundamentais, as mídias sociais terão um papel bem mais relevante nas relações humanas.
E eu de fato pensei bastante a respeito, sem preconceitos, sem uma visão unilateral ao mesmo tempo em que tento me inserir nesta nova ordem mundial. Como disse antes, temos muito a aprender com os macacos, especialmente alguns comportamentos de sociabilidade. Mas quando eu penso num futuro sem escrita e sem leitura, na minha mente vem apenas aquela famosa gravura da involução humana. Eu não acredito que apenas a nossa coluna tende a atrofiar, eu acredito que o nosso cérebro tende a diminuir. E enquanto padeço desta descrença na evolução do aprendizado sem estas velhas ferramentas, eu quero utilizá-las como se não houvesse amanhã.

Estive em um médico endocrinologista esta semana e ele me comentou que quando se formou tinha uma impressão sobre o futuro que era a mesma que eu tinha quando era criança na década de 80: que as pessoas se alimentariam somente de pílulas e cápsulas, alimentos congelados, reidratados, nutrientes condensados e a comida de verdade praticamente não seria mais necessária. Essa era realmente a nossa visão de mundo influenciada por filmes de ficção, aparecimento de diversos complexos vitamínicos milagrosos, astronautas visitando outros planetas e a velha falta de tempo para cozinhar em meio à nova rotina que estava surgindo.
Mais de trinta anos depois, com o tempo ainda mais escasso, o que vemos é algo totalmente diferente, as pessoas cada vez mais buscando a alimentação parecida com a dos nossos avós, alimentos orgânicos, menos uso de micro-ondas e de ingredientes processados. Hoje os grandes nomes da gastronomia convidam a população a voltar para suas casas e cozinharem o seu próprio alimento, de forma cada vez mais natural. Isto é involução? Quando olhamos para o mundo cada vez mais obeso de um lado e desnutrido de outro, temos a certeza que não.
E eu quero continuar lendo os meus romances (sim, diferente de crônicas e contos, aqueles textos mais longos, detalhistas e complexos dos quais os ansiosos fogem como o diabo da cruz) e usando minhas canetas por muitos e muitos anos, os que restam, no mísero espaço de tempo disponível que eu puder dispor. Espero conseguir. Esta folha foi sem culpa.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Look do dia...


Acho mesmo que ainda estamos sofrendo as consequências da febre universal dos realities shows e/ou todos acreditam mais do que nunca na imortal frase de Andy, o Warhol, lembra?
- Um dia todos terão os seus 15 minutos de fama...

Ok, talvez todos possam realmente ter 15 minutos de fama. E para quê? Alguém me diz?
10% de todos terão algo interessante para dizer, ensinar, mostrar?

De minha parte, o meu anonimato está de ótimo tamanho. Para mim e para os outros, especialmente se os outros também pensam que fama e talento deveriam andar de mãos dadas...

Os seres humanos são apenas carentes de atenção e querem reconhecimento.
Os seres humanos mais carentes de atenção são aqueles que menos tem o que fazer em suas vidas.

Os que mais querem reconhecimento são aqueles que menos apreciam o que fazem. Apreciar não no sentido de gostar, é claro. Apreciar no sentido de se dedicar, de entender, de se aprimorar e, por fim, fazer parte daquilo que se faz. E, obviamente, neste estágio, necessidade de reconhecimento é apenas uma cereja no topo do sundae...
Não, meu blog querido, não estou sendo pessimista. Essa é mais uma constatação de final de tarde de uma 5ª ou 6ª feira comum. Aquelas  em que você passa pelos bares das grandes cidades e observa as conversas de happy hour e percebe que são todas iguais. Homens e mulheres comentando o quanto trabalham, o quanto se esforçam, o quanto contribuem para a empresa ou um projeto, ou o quanto entendem de determinado assunto, o quanto isso, o quanto aquilo... Será que as pessoas esqueceram o quanto é envolvente alguém que fale pouco sobre o seu trabalho, a sua importância ou a sua personalidade? O quanto instiga-nos buscar informações relevantes?

Está cada vez mais difícil encontrar uma mulher bonita e bem vestida, que eventualmente não se mostre uma expert em tendências “allwear” & make up ; )
Será que as pessoas esquecem que quem realmente trabalha muito, não tem tempo de ficar reclamando ou se vangloriando do quanto trabalha?

Será que esquecemos que as pessoas realmente inteligentes são aquelas das quais mais queremos obter informações? E por mais extrovertidas que elas sejam, dificilmente se mostram?
Pois é, acho que sim. Lá vou eu de novo falar das redes sociais, do "twit", do facegrude, etc, etc... Mas a contribuição delas para esse esquecimento é inegável. E chego a pensar que é irreversível.

É uma pena. Pois quando a gente começa a esquecer a nossa desimportância, também esquecemos o quanto é necessário lutar para nos afastarmos dela e assim, de fato,  parecermos minimamente interessantes...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Send in the clowns


Quando há poucas esperanças no futuro, temos que explorar os tesouros do passado.

Não botei aspas nesta frase porque ela é minha mesmo. E não tem nada demais, estou simplesmente falando de música. Embora, pensei bem, poderia ser sobre amor, dinheiro, moda, etc...

Mas estou falando da minha necessidade de ouvir boa música. Aquela que, como já expliquei aqui, é uma combinação perfeita de letra e melodia que juntas em harmonia entram pelos nossos poros e provocam emoções. Sei que muita gente sente isso ouvindo músicas que, honestamente, acho que eu mesma poderia compor (e algumas que eu teria vergonha de compor também). Não menosprezo a emoção de outras pessoas, mas estou falando de arte mesmo, não de uma combinação de rimas bobas, com refrão insistente e um batuque. Arte é sublime e a boa música também.

Tive muita sorte na minha adolescência. Acredito que existam na História da nossa civilização períodos bem mais criativos do que outros. Há fases de grandes descobertas, grandes evoluções e, lamentavelmente, no campo musical, sinto que atualmente não estamos passando por elas.

Além de fazer parte de uma geração de bandas maravilhosas como Titãs, Engenheiros, Paralamas e a insuperável Legião Urbana, eu tinha muitos amigos com bom gosto musical. Foram eles que me fizeram descobrir aquela que considero uma das maiores cantoras de todos os tempos (Elis Regina), me fizeram gostar e entender a poesia do The Doors, me apaixonar pela voz do Eddie Vedder e, por fim, a minha curiosidade me levou a ser fã de diversas outras bandas, cantores(as), estilos diferentes e da maior banda de todos os tempos, os meus Beatles. Bom, pelo menos essa última parte é consenso mundial, não a minha opinião.

Quando eu tinha 16 anos ganhei de uma amiga o álbum Stonewall* do Renato Russo. Esse álbum não influenciou apenas o meu gosto musical, mas também ajudou a mudar a minha visão do mundo.

Bom, eu já era fã dele, adorava músicas em inglês e tudo mais. Mas aquilo na época me pareceu um pouco demais. Renato Russo cantando musicas difíceis, estilo crooner (eu nem sabia o que era um crooner nessa época), um ritmo que ainda era muito diferente pra mim (sabia menos ainda que um dia seria apaixonada por jazz) e muito diferente do meu estilo (rock, preferencialmente com protesto). Mas eu me abri à possibilidade de escutar e gostei. Por um tempo aquilo era para mim apenas estranho, exceto por uma música que desde o começo me arrebatou: “If tomorrow never comes”. Talvez porque a letra básica, que logo entendi, e o ritmo suave diziam tudo, era o tipo de música e de letra que nem imaginei que existia: perfeita para quem não tem coragem de dizer o que sente (paixão platônica) e tem medo do futuro, ou seja, ideal para adolescentes românticos e inseguros, como era o meu caso.

Até que diversas passadas de agulhas depois (sim, era vinil, velha é a tua mãe!), eu percebi que o álbum todo era sobre canções de amor e, principalmente, sobre corações partidos (hoje seria só pesquisar no Google pra saber...). Sempre vou lembrar desta fase, desse disco lindamente interpretado pela voz forte e afinadíssima do Renato Russo, recém devastado pelo fim de um grande amor, e sob medida para mim, recém ignorada por todos os meus amores (reais e imaginários).

Não é engraçado como um disco de músicas tão velhas pode ser tão novo para um adolescente?

E há uns meses atrás, despretensiosamente, estava ouvindo Send in the clowns e a emoção tomou conta da minha alma. Gosto tanto dessa música e acho tão especial que queria encontrar uma tradução perfeita. Como não achei, resolvi pesquisar e modificar. O meu amigo Google é super inteligente, sempre dá uma forcinha....

http://pt.wikipedia.org/wiki/Send_in_the_Clowns

E então tenho certeza que esta música é simplesmente divina e eu recomendo para quem já passou ou está passando pelo fim de um relacionamento. Quando o mundo estiver prestes a desabar e o desastre for iminente, eu desejo apenas que, mais que imediatamente, entrem os palhaços!


Isn't it rich, are we a pair? - Não é precioso, nós somos um par?

Me here at last on the ground, - Eu aqui finalmente no chão

You in mid-air. - E você no ar

Send in the clowns. - Que entrem os palhaços!


Isn't it bliss, don't you approve? - Não é uma alegria, concorda?

One who keeps tearing around - Um que está todo apressado

One who can't move - Outro que não consegue se mexer

Where are the clowns? - Onde estão os palhaços?


Just when I'd stopped opening doors, - Logo quando fechei as portas

Finally knowing the one that I wanted was yours. - Finalmente achando que era você quem eu queria

Making my entrance again with my usual flair, - Fazendo minha entrada novamente com meu charme habitual

Sure of my lines; - com minhas falas decoradas

No one is there. – mas ninguém estava lá


Don't you love farce? – Você não adora uma comédia?

My fault I fear, - Admito meu erro

I thought that you'd want what I want, - Pensei que você queria o mesmo que eu

Sorry my dear – Sinto muito

But where are the clowns – Mas onde estão os palhaços?

There ought to be clowns – Tem que haver palhaços!

Quick send in the clowns – Que entrem rapidamente os palhaços


What a surprise! – Que surpresa!

Who could foresee – Quem poderia prever?

I'd come to feel about you – Que eu sentiria por você o mesmo

What you felt about me? - que você sentiu por mim?

Why only now when I see – Por que logo agora quando vejo

That you've drifted away? – que você se afastou?

What a surprise... Que surpresa!

What a cliche'... Que cliché!


Isn't it rich, isn't it queer – Não é lindo, fantástico?

Losing my timing this late in my career – Perdendo o jeito depois de tanto tempo neste ofício?

And where are the clowns – E onde estão os palhaços?

Quick send in the clowns – Que entrem imediatamente!

Don't bother, they're here. – Não se preocupe, eles estão aqui!

http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Stonewall_Celebration_Concert



quarta-feira, 25 de julho de 2012

A capa fria

Percebi uma coisa interessante esses dias. Tenho saído cedo e chegado tarde em casa e minha companhia mais constante tem sido o telejornal. No meu café da manhã apressado, eu estou lá atenta. E na volta, cansada, lá está ele de novo. São edições diferentes, mas parecem absolutamente iguais. Me lembra Cazuza: “Você sempre volta com as mesmas notícias...”


Essa semana até aconteceu uma coisa engraçada. O apresentador já tinha desfiado todo o rosário: tragédias, acidentes, assaltos, seqüestros, assassinatos, ataques, a crise européia, americana, o inferno na Síria, e do nada, ele pára e diz: – E agora uma notícia triste...???? ¬– O goleiro da seleção está lesionado e terá que ser substituído nas Olimpíadas...??? Hã??

Não, parece piada, mas é sério. Até porque o brasileiro médio não entende muito bem humor negro ou ironia, né? E eu aqui entendi, na verdade, que o cara tá mesmo tão habituado, que realmente goleiro lesionado é a única notícia extraordinária (no sentido jornalístico da palavra, é claro) dos últimos tempos.

Juro! Pensei, é isso mesmo, todo dia é igual, é muita noticia horrível junta. A economia mundial vai mal, a seca no nordeste é a pior dos últimos anos, psicopatas continuam protagonizando massacres, políticos envolvidos em esquemas maiores e mais fraudulentos, aumento do consumo de drogas e tudo vai ficando cada vez mais... NORMAL!

Mas isso não é o pior. Como já dizia Renato Russo, estamos vivendo num mundo doente. Sim, porque vamos considerar que o telejornal é a fonte “mais segura” de cultura, informação e orientação do nosso povo. Se os brasileiros tivessem um guru, provavelmente ele seria o William Bonner. Mas ele só está ali para dizer o que acontece. E o que acontece é muito ruim. E quanto pior está, pior vai ficando. Não é estranho que vivamos em uma época onde o índice de casos de depressão é tão alarmante. O mundo está cheio de pessoas deprimidas e o próprio universo em si está ficando deprimido e depressivo.

Mas a verdade é que temos que sair e enfrentar o nosso dia-a-dia com um sorriso no rosto e agradecer à Deus a nossa sorte. Somos sobreviventes e isso é um grande motivo de alegria.

Temos que agir da mesma forma como aqueles médicos que amam a sua profissão, mas que precisam ter sangue frio para executá-la corretamente. Precisamos sim de frieza, mas temos que ter jogo de cintura para continuar sendo humanos mesmo diante de tanta desumanidade.

Dei um tempo para o telejornal então. Ele estava ficando uma mistura de programas sensacionalistas de fim de tarde e alguns índices econômicos. Decidi que vou me habituar a buscar na internet as informações essenciais que me permitam não ser uma mulher alienada. É uma pena que muitas pessoas não tenham instrução para usar este recurso também.

Eu espero que a maioria das pessoas tenha a capacidade de se compadecer e ainda assim não se abater a ponto de ficar com medo do mundo, ou a ponto de sentir uma tristeza por tudo que acontece e independe da nossa vontade. Acho que eu quero evitar o que os alemães chamam de Weltschmerz. E o meu desejo é que tenhamos discernimento para usar a nossa tão necessária “capa fria”.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ah, Obama...

Eu não deveria me surpreender com o Sr. Obama. Já foi surpreendente ele ser o primeiro negro eleito presidente em um país tão preconceituoso como os Estados Unidos. Mas ainda assim, ele me surpreendeu! Porque colocou a sua moral em risco para defender sua opinião. Sim, porque nos EUA a moral é tão ou mais importante que a taxa de desemprego, a dívida interna , o PIB, as relações exteriores, etc, etc, e Bill Clinton que o diga.
Pode ser que isso mude, afinal, países desenvolvidos e ditos democráticos tendem a discutir seus problemas, diferente de países subdesenvolvidos e democráticos de fachada como é o caso do Brasil. Mas não acho que as mudanças aconteçam em um curto prazo. Demorou muito tempo para que negros e brancos pudessem sequer freqüentar o mesmo espaço como iguais nos EUA. Vejam que absurdo! Demorou tanto e ainda existe um imenso preconceito racial, mesmo com a maioria da população negra e, nessa maioria, o seu presidente!

Quando os seres humanos vão se enxergar como seres humanos e basta?
Me dói quando vejo essa polêmica ridícula. Me faz sofrer porque percebo que vivo em um mundo de pessoas egoístas, individualistas e pouco evoluídas.

Há tempos ficou claro que o homossexualismo é uma questão biológica. Oras, como não? A homossexualidade existe desde o inicio dos tempos e basta observar a natureza para ver que ela existe. Se ela existe na natureza e não causa prejuízo a nenhuma criatura, ela é natural. Queiram os extremistas religiosos ou não, é assim. Assim como a minha heterossexualidade.
Não, por favor! Qualquer moda, qualquer vibe, qualquer situação mesmo que momentânea, não vai me fazer sentir atração sexual por mulher, é da minha natureza. Graças a Deus, a sociedade considera isso normal...

Mas então é isso? O ser humano que paga suas contas, que é um bom filho, um cidadão consciente, um amigo prestativo ou um provedor de família tem que viver à mercê do que a sociedade considera certo ou errado, mesmo que isso não afete em nada a vida dos outros?

Faça-me o favor! Meus amigos gays não merecem essa vida! Assim como eu não tenho que pedir a permissão deles para me casar, eles não têm que me pedir permissão para oficializar uma relação estável, longeva e monogâmica só porque os outros se incomodam!

Eu não quero ter um filho homossexual, é claro, ninguém quer. Porque isso significaria ver o sofrimento da minha cria em uma sociedade preconceituosa e intolerante. Significaria ter que passar a minha vida evitando mal estar e buscando palavras certas para explicar o que não necessita ser explicado. Mas isso não é uma escolha minha. Basta olhar (não somente com os olhos, mas com a mente aberta) e todos podem enxergar as diversas crianças homossexuais que existem no mundo. Elas nem sabem o que é isso, elas nem têm a noção de sexualidade. Mas aqueles que não são cegos podem ver a diferença entre elas e as outras crianças tida como “normais”. Não, não é uma escolha.

Você pode também não querer ser negro nos EUA, a vida é muito mais difícil para os negros nos EUA, mas não é uma escolha possível.
Deixem os negros trabalharem, estudarem, viverem suas vidas com dignidade e eles serão admiráveis como Martin Luther King, Oprah Winfrey e... Barak Obama! Nada mau para uma raça que há 100 anos não tinha um pingo de respeito ou direitos.
Infelizmente negros que tanto foram vítimas de preconceito também têm preconceitos contra homossexuais. Ora, nordestinos que tanto são discriminados na nossa cidade têm preconceitos com negros e homossexuais! E onde isso leva a nossa sociedade? Pra lugar nenhum ou para o fundo do poço...

Não, não, se Deus quisesse que fosse assim, casais do mesmo sexo poderiam ter filhos...

?????

E aqueles que escolhem não ter filhos? E os estéreis? Não são filhos de Deus?

Um casal de homossexuais não pode adotar uma criança abandonada no lixo, (obviamente) concebida por um casal de heterossexuais porque a sociedade não concorda?

Porque a sociedade não faz o favor de se mobilizar para que seja aprovada uma lei para que este casal tenha prisão perpetua? Sim, porque criaturas que abandonam seus filhos em latas de lixo não podem ser consideradas humanas!

A sociedade deveria se mobilizar para exigir uma revisão na lei para que houvesse pena de morte para um pai que violenta a sua própria filha, porque este ser sim, não é humano.

Mas ao invés disso, a sociedade se preocupa em querer opinar sobre o direito de união de pessoas que querem ser feliz e viver a sua vida em paz. Muitas delas que, independente da sua preferência sexual, trabalham por um mundo melhor.

É lamentável que as pessoas não consigam perceber a grandeza do gesto de Barak Obama!

Eu percebo, eu concordo e eu apoio! Porque se um dia Deus me der um filho ou filha homossexual, eu apenas posso desejar que ele(a) tenha da minha família e da sociedade o respeito, o apoio e a compreensão que todo ser humano digno e honesto necessita e merece para ser feliz.








quarta-feira, 28 de março de 2012

O céu está cheio de graça

As águas de março fecham o verão e as mortes deste março estão fechando uma era, a do humor inteligente. Não, não é pessimismo. É uma constatação.
Quando escrevi aqui há dois anos sobre Michael Jackson, estava falando de um tipo raro no cenário musical, um artista completo, insubstituível. Agora falo de humoristas.
É claro, como dizia Chico Anysio, todos somos insubstituíveis. Pois então, constate-se, não existem mais Chicos e Millores por aí. E não haverá, já que haverá outro tempo, outros espectadores, outros leitores, outros apreciadores. Não se pode negar que o humor inteligente está perdendo o seu espaço. E digo isso com a esperança de quem um dia aqui defendeu um representante da nova geração, Danilo Gentili.
Mas é diferente, Millôr e Chico eram de uma erudição invejável. Tinham talentos múltiplos e não se contentavam em simplesmente fazer humor, eram homens de fazer a diferença. Eram críticos, eram formadores de opinião, eram gênios, e, por incrível que pareça, populares.
Não sei na verdade se ainda há espaço no nosso país (ou até no nosso mundo) para inteligência e popularidade. As páginas mais acessadas da internet são prova disso, não há nada de relevante ou inteligente na maioria delas.
O fato é que minha vida mudou. Chico Anysio já fazia parte de uma deliciosa parte da minha infância, do Tim Tones, do Cascata, do Jovem, e depois me preparou com o seu humor futurista para entender o gênio Millôr. Este me guiou com suas piadas, charges, crônicas por essa vida caótica. Minha bíblia era a "do caos". E foi através deste livro também que encontrei o meu grande amor... Pois é, além de cultura e risadas, Millôr me deu sorte!
Só posso dizer que o céu agora deve estar cheio de graça e aqui o caos segue em frente com toda a calma do mundo... Mas talvez seja só pessimismo mesmo da minha parte, ou tristeza, pois com Millôr foi um pouquinho da minha história. Mas é a vida, e como diz um dos meus hai-kais preferidos...

"Goze.
Quem sabe essa
é a última dose?"

Adeus! E muito obrigada, Millôr!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Um pouco menos idota

Depois de muito tempo, finalmente de volta ao meu bloguinho, meu cantinho...
A experiência do Facebook não foi muito boa para mim no final das contas. Não que uma coisa substitua a outra, é claro. Aliás, uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Aqui gosto de escrever o que me vem na cabeça, mesmo que sejam bobagens, sem esperar repercussões, críticas, elogios ou sei lá o quê. Esse é apenas aquele diário que a gente vai preenchendo ao longo da vida e se surpreende anos mais tarde relendo como se estivesse vendo páginas escritas por outra pessoa. Como a famosa frase de Heráclito: “Ninguém mergulha duas vezes no mesmo rio, pois tanto a pessoa quanto o rio não são mais os mesmos”.
Lá, eu tentava postar alguma coisa que realmente fosse interessante para mais alguém além de mim, mas sentia que estava num rio morto.
O fato é que quase ninguém está interessado no que os outros estão pensando, ou está disposto à mostrar-se como realmente é numa rede social, ou interessado em trocas de opiniões, em debates, sejam inteligentes ou não. Eu sei que para tudo hoje em dia na internet existem canais específicos, mas seria bom se a maioria das pessoas discutisse assuntos mais úteis que o BBB e a sua vida particular. Puxa vida, sei lá, uma opinião política, uma crítica, uma notícia polêmica, um bom filme, uma boa música e um bom livro têm que ser mais interessantes do que o as bobagens escritas no meio do horário comercial ou na madrugada sobre o próprio nariz ou sobre a bunda alheia. Eu acho que voltei mais insuportável depois da minha experiência facebuquiana. Vou me trancar aqui na minha página e ficar com a minha chatice até esquecer.



Não me acho mais inteligente ou superior a ninguém, só me decepcionei ao saber que as pessoas perdem tanto tempo da preciosa vida com uma bobagem desta, inclusive eu mesma. Eu passei meses postando comentários idiotas e observando comentários mais idiotas ainda. Fucei perfis em busca de notícias sobre a vida de pessoas e de assuntos que não me diziam respeito. Percebi o quão patético é chamar a atenção para si mesmo, como se você fosse especial ou as outras pessoas não fizessem exatamente a mesma coisa sempre. Todos viajam, todos têm amigos, todos freqüentam lugares interessantes, todos têm filhos lindos, todos amam os seus pais, os seus cônjuges, todos gostam de chocolate!!! Me deu tristeza! Eu sei que crianças e adolescentes podem se viciar em qualquer droga (real ou virtual), mas parece até que a internet não é uma ferramenta maravilhosa de informação e entretenimento! Eu cheguei à conclusão que o facebook não tem ambos! E às vezes parece também que não tem adultos...

E, falando sério, hoje eu teria vergonha de deixar de ler um livro, dar atenção ao meu marido, filhos (se eu os tivesse, é claro) e amigos, teria vergonha de deixar de interagir, de dar um telefonema, de dormir, de viver a nossa vida que é tão curta para postar asneiras. Ou pior ainda, copiar as asneiras alheias e postar. Controverso o que vou dizer, mas penso no facebook como um retrocesso na evolução que foi a internet. É como o efeito negativo da pólvora: ele mata tanta coisa boa e útil (o nosso tempo, a nossa cultura, a humildade, o bom senso...). Acho que é isso, minha humilde opinião. Há pessoas que gostam e incorporaram o facebook na sua rotina. Mas eu estou feliz. Dia 09/03/12 em comemoração (atrasada) ao dia internacional da mulher eu abandonei a porcaria do facebook e acho que voltei a ser uma mulher um pouco menos idiota.